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Pesquisa investiga por que mulheres preferem cesárea

Para especialistas, fatores culturais somados à falta de leitos nas rede pública e privada afastam mulher do parto normal

Medo de sentir muita dor e preocupação com sexualidade também aumentam preferência por cesáreas

Marisa Cauduro/Folhapress
A bióloga Hana Masuda, 34, com a filha Alice, um mês após o nascimento por parto normal
A bióloga Hana Masuda, 34, com a filha Alice, um mês após o nascimento por parto normal

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

Fatores culturais e falta de informação são alguns dos motivos que levam à preferência nacional pelo parto com data marcada.

Hoje, o Brasil é um dos recordistas mundiais em partos cesarianos. Em 2010, o número de nascimentos cirúrgicos chegou a 52%, passando os partos normais.

A preocupação com a quantidade de cirurgias no nascimento é tanta que o Ministério da Saúde vai fazer uma pesquisa com 24 mil mulheres para entender o que leva à escolha da cirurgia com data marcada para dar à luz.

O trabalho vai verificar qual é a indicação médica e os motivos que levaram a mulher a escolher um determinado tipo de parto -normal, cesárea ou até em casa.

A hipótese é que fatores culturais contem muito nesse tipo de decisão.

"A mulher brasileira se preocupa com a sexualidade e teme que o parto altere o períneo, o que é é um mito", diz Vera Fonseca, diretora da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e do Conselho Federal de Medicina.

MEDO DA DOR

O medo da dor também afasta a mulher do parto normal. "Temos uma imagem de parto normal como se vê no cinema, com dor e sofrimento. Isso afasta as mulheres da opção natural", analisa a historiadora da ciência Germana Barata, da Unicamp.

De acordo com a ginecologista da USP, Sonia Penteado, alguma mulheres que tentam enfrentar a dor do parto não aguentam.

"Já tive pacientes que chegaram a ter dilatação completa no parto, mas não toleraram a dor e pediram para que fosse feita a cesárea", conta.

Esse tipo de intervenção é possível no sistema privado. "No público, a mulher tem de aguentar a dor porque faltam cirurgiões", diz Penteado.

A proporção de quantidade de cesáreas no SUS gira em torno de 37% dos nascimentos. Na rede privada, o percentual sobe para 82%.

DECISÃO DO MÉDICO

Mas, além da cultura, a opinião dos médicos também conta -e muito- na decisão.

"Nunca chegou uma paciente no meu consultório dizendo 'quero cesárea e pronto'", diz Penteado.

Segundo ela, a maioria das mulheres decide com seu médico o tipo de parto.

Ela recomenda parto normal a suas pacientes desde que não existam fatores de risco, como hipertensão. Hoje, a doença é a principal causa de morte de mulheres no parto no Brasil (na Europa e nos EUA é a hemorragia).

Para Fonseca, muitos médicos incentivam a cesárea por receio de falta de leitos, inclusive na rede privada.

O Brasil tem 0,28 leito para cada mil usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) -o que, de acordo com o Ministério de Saúde, atende a demanda. Mas países desenvolvidos têm o dobro disso.

"Se a paciente entra em trabalho de parto de maneira inesperada, corre risco de não ter vaga. Isso dá insegurança para o médico."

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