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Gêmeas recebem células-tronco de um só cordão umbilical

Transplante inédito no mundo dividiu as células de um doador entre duas receptoras, que têm doença genética

Procedimento foi feito no hospital Albert Einstein, em São Paulo; meninas completam um ano no dia 12

Letícia Moreira/Folhapress
As gêmeas Luana (de lilás) e Letícia, no hospital Albert Einstein, onde fizeram tratamento
As gêmeas Luana (de lilás) e Letícia, no hospital Albert Einstein, onde fizeram tratamento

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE “SAÚDE”

As gêmeas Letícia e Luana, nascidas em Cuiabá, Mato Grosso, têm mais uma coisa em comum do que os outros irmãos univitelinos do resto do mundo: elas receberam um transplante de células-tronco tiradas de um mesmo cordão umbilical.

O compartilhamento de células de um cordão só é inédito no Brasil e, segundo os médicos responsáveis pelo tratamento, feito no hospital Albert Einstein, não há registro de caso igual no mundo.

As meninas, que estão prestes a completar um ano, têm uma doença raríssima chamada linfohistiocitose hemofagocítica hereditária.

O mal, que atinge ao menos 1 em 50 mil nascidos vivos (muitos casos não recebem diagnóstico), é fruto de uma alteração genética hereditária que altera uma célula chamada histiócito.

Essa célula tem como função "limpar" a medula óssea, que fabrica as células do sangue. Mas, em quem sofre da doença, o histiócito tem uma atividade enlouquecida e engole células do sangue, como os glóbulos vermelhos.

Isso leva à falta dessas células, causando anemia, alterações no sistema imune e até danos neurológicos, como explica o hematologista Nelson Hamerschlak, coordenador da unidade de transplante de medula óssea do hospital Albert Einstein. Sem tratamento, que pode ser feito com remédios ou transplante, a doença mata.

DIAGNÓSTICO

A linfohistiocitose hemofagocítica costuma se manifestar após o portador entrar em contato com vírus ou bactérias. No caso das gêmeas, os sintomas começaram após a vacinação contra poliomielite, aos dois meses de vida.

"A vacina só desencadeou a doença, poderia ter sido qualquer coisa", afirma a hematologista Juliana Folloni, também do Albert Einstein, que está acompanhando o caso das meninas.

A mãe, Gracieli Dutra da Silva, 26, conta que só Letícia ficou doente. O estado grave de saúde da menina levou ao pedido de transferência para para São Paulo. As duas foram, então, para o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, onde receberam o diagnóstico, conta a mãe.

Apesar de Luana não ter tido sintomas, ela também tem a doença, porque seu código genético é igual ao da irmã. "Elas ficaram internadas lá de maio a agosto. Já saíram com o doador de escolhido."

Em casos mais leves da doença, que se manifestam mais tarde, é possível um controle com remédios. No caso delas, a solução era mesmo o transplante. O doador foi encontrado nos EUA.

Como as meninas são gêmeas univitelinas, o doador foi compatível para as duas.

Um transplante como esse usa células-tronco retiradas do cordão umbilical de um bebê, colhidas logo após o parto e congeladas. O objetivo é que as células repovoem a medula óssea do receptor para fabricar células sanguíneas sadias.

Para isso, é preciso que o cordão umbilical do doador tenha células suficientes de acordo com o peso de quem vai recebê-las. "Como elas tinham mais ou menos 6 kg cada uma, foi possível usar o mesmo cordão."

Em geral, usa-se sangue de um cordão para uma pessoa ou de dois cordões, quando o número de células não é suficiente. A novidade do caso é usar um para duas pessoas.

A divisão das células foi feita no Brasil, com o cuidado de dar a cada uma a mesma quantidade.

Antes do transplante, as meninas foram submetidas à quimioterapia para matar as células da medula óssea. Só depois disso é que as células-tronco foram infundidas.

O transplante foi feito em 16 novembro e seu sucesso foi constatado um mês depois. As meninas voltam nesta semana para Cuiabá para comemorar, em casa, seu primeiro aniversário.

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