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Mamografia anual pode dar diagnóstico exagerado

Até 25% das mulheres nas quais o teste acha câncer não precisariam ser tratadas

Para especialistas do Brasil, resultado de estudo não deve alterar o protocolo sobre mamografia no país

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

Até um quarto dos casos de câncer de mama diagnosticados por mamografia não se desenvolveriam e não precisariam de tratamento, mostra um estudo da Universidade Harvard (EUA) conduzido com mulheres da Noruega.

Isso acontece porque esse tipo de exame de imagem detecta tumores muito precocemente -incluindo aqueles que levariam muitos anos ou décadas para progredir.

Com isso, até 25% das mulheres que recebem o diagnóstico da doença na Noruega são submetidas a tratamentos contra o câncer, como quimioterapia, sem necessidade.

"Os radiologistas estão sendo treinados para detectar o menor câncer possível. Mas isso leva ao diagnóstico de tumores que não têm sintomas e nem risco de morte", diz o norueguês líder da pesquisa, Mette Kalager.

Kaleguer e colegas, no entanto, não têm sugestões de como deveria ser feito o diagnóstico do câncer de mama.

"Mas nós temos uma obrigação ética de avisar as mulheres que esse fenômeno [o sobrediagnóstico] existe", escreveram os médicos Joann Elmore e Suzanne Fletcher no editorial da revista "Annals of Internal Medicine", onde o estudo foi publicado ontem.

OS OLHOS NÃO VEEM

Os pesquisadores compararam dois grupos de norueguesas com câncer de mama de 1996 a 2005. As participantes tinham de 50 a 69 anos -idade em que a mamografia é indicada no país. Um grupo fazia anualmente a mamografia e o outro tinha mulheres que não faziam o exame.

Os pesquisadores notaram um aumento de 15% a 25% no diagnóstico de câncer das mulheres com mamografia.

O exame evita a morte de uma em cada 2.500 mulheres que o realizam. Mas, por outro lado, submete de seis a dez delas a tratamento desnecessário contra câncer.

"Esse estudo gera hipóteses. Mas o resultado não muda as recomendações sobre mamografia", diz o oncologista do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), Max Mano. No Brasil, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) recomenda que o exame anual comece aos 40.

No entanto, de acordo com Maira Caleffi, presidente da Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama), apenas 50% das brasileiras em idade de risco têm acesso ao exame no país.

"Ainda temos um índice de mortalidade crescente por câncer de mama. Temos de convencer as pacientes a fazerem a mamografia, mesmo correndo o risco de sobrediagnóstico", disse Caleffi.

"Pela biópsia dá para ter uma ideia de se o tumor vai se desenvolver em dias ou em anos. Mas o tumor pode agir de maneira diferente do esperado", diz Max Mano.

O debate acerca do excesso de diagnóstico não é novo e nem exclusivo do câncer de mama. No ano passado, um grupo britânico constatou o sobrediagnóstico de câncer de próstata naquele país.

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