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Médicos fazem campanha contra excesso de exames

Sociedades de especialistas dos EUA querem evitar diagnóstico exagerado

Iniciativa lançou lista com 45 exames que deveriam ser reavaliados e feitos com menor frequência

MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

Em um ato contra o excesso de exames e o sobrediagnóstico, nove sociedades médicas americanas lançaram uma lista com 45 testes que deveriam ser pedidos com menor frequência. As recomendações são dirigidas também aos pacientes, para que questionem seus médicos.

Outras oito comissões de especialistas também se preparam para anunciar suas listas de procedimentos que devem ser menos frequentes.

A mudança representa um reconhecimento por parte dos médicos de que muitos testes e procedimentos rentáveis são realizados de forma desnecessária e podem prejudicar os pacientes.

Segundo Gustavo Gusso, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família, é importante que as pessoas saibam que o excesso de exames traz mais problemas do que benefícios.

"Muitos acabam descobrindo e tratando doenças desnecessariamente para que a redução da mortalidade seja só um pouquinho maior. Sem contar os falsos-positivos de câncer", afirma.

Essa mudança de opinião nos EUA também reflete alterações nos planos de de saúde, que estão tentando reduzir incentivos financeiros para os médicos pedirem mais exames e procedimentos.

GASTOS

Tratamentos desnecessários são uma importante fonte de gastos entre as despesas médicas nos EUA.

"Mas o sistema privado de lá não é muito diferente da situação no Brasil. Aqui também há excesso de especialistas e exagero de exames e intervenções", diz Gusso.

A campanha das sociedades médicas foi batizada de "Choosing Wisely" (escolhendo sabiamente).

A lista de exames inclui recomendações para procedimentos rotineiros, como eletrocardiogramas, hoje feitos mesmo quando não há sinal de problemas cardíacos, e ressonâncias magnéticas.

O American College of Radiology solicitou que os radiologistas não realizem exames de imagem em pacientes com uma simples dor de cabeça. Até os oncologistas estão recebendo a recomendação de pedir menos exames em pacientes com câncer de mama ou de próstata em estágio inicial com poucas chances de metástase.

"O uso excessivo de cuidados representa uma das mais sérias crises na medicina norte-americana", afirma Lawrence Smith, chefe do North Shore-Long Island Jewish Health System, em Nova York. "Muitos pensaram que as organizações mais resistentes seriam as sociedades de especialistas, então essa é uma mensagem importante."

DIFICULDADES

Em 2009, novas diretrizes para mamografias nos EUA recomendavam que as mulheres fizessem o exame com menos frequência, o que trouxe medo entre as pacientes sobre o aumento do controle do governo sobre decisões relacionadas à saúde e limitações ao tratamento.

"Infelizmente, as pessoas preferem o exagero, mesmo que tenham um prejuízo por causa de um tratamento sem necessidade", diz Gusso. "Não é por causa dos exames que elas vão viver mais. Alimentação saudável, atividade física e parar de fumar são mais importantes."

Os médicos, por sua vez, muitas vezes não seguem as diretrizes. Segundo Gusso, como o tempo das consultas é curto, o médico logo pede um exame e o paciente sai mais satisfeito.

"As pessoas acham que o dinheiro gasto com o convênio só vale a pena se usarem ao máximo. Mas deveriam pensar que é como um seguro de carro: ninguém quer um acidente para receber o dinheiro das mensalidades."

Com o "New York Times"

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