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Transplante de medula em idosos ganha novas técnicas

Remédios menos tóxicos abrem possibilidade para maiores de 60 anos receberem o tratamento, antes restrito aos jovens

Estudo conduzido no Einstein, em SP, mostrou taxa alta de sobrevida em idosos submetidos a esse procedimento

Marisa Cauduro/Folhapress
Um ano após o transplante, o empresário Bernardo Kogan, em seu escritório no centro de SP
Um ano após o transplante, o empresário Bernardo Kogan, em seu escritório no centro de SP

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE “SAÚDE”

Médicos estão buscando novos métodos para realizar transplantes de medula em uma parcela da população que poucos imaginam como alvo tratamento, tão associado a adultos jovens e crianças: os maiores de 60 anos.

Ao mesmo tempo que correm um risco maior de desenvolver doenças do sangue como a leucemia mieloide aguda, pessoas dessa faixa etária não recebiam recomendação de transplante, por causa dos riscos do tratamento.

Agora, além de poderem fazer o transplante, os mais velhos começam a ter a possibilidade de ser tratados de forma mais eficaz.

Segundo o hematologista Vanderson Rocha, há 15 anos, nem se tentava o transplante para maiores de 55 anos.

O procedimento é feito nos cânceres hematológicos para reiniciar a produção de células do sangue sadias.

Antes do transplante, o paciente é submetido a uma quimioterapia forte que mata as células cancerosas e também as saudáveis da medula óssea, a "fábrica do sangue".

Os remédios usados nesse tratamento são fortes e tóxicos. "Isso pode levar o paciente à morte", diz Rocha.

Uma forma de contornar esse problema é usar combinações mais "fracas" de remédios, que não chegam a acabar com as células da medula antes do transplante. O método pode ser usado tanto em pacientes idosos quanto em jovens mais debilitados, que não resistiriam à terapia convencional.

Rocha, do Hospital Sírio-Libanês, diz que o risco, nesse caso, é a doença voltar.

Mas, segundo o hematologista Nelson Hamerschlak, do Hospital Israelita Albert Einstein, já é possível usar, para esses pacientes mais velhos, métodos de transplante tão eficazes quanto os recomendados para os jovens.

A necessidade do tratamento é uma questão matemática. Segundo estudo na revista "Blood", a leucemia mieloide aguda aumenta de até 3,9 casos por 100 mil entre pessoas com até 60 anos para até 19,2 casos por 100 mil na faixa acima dos 60. A doença afeta a produção de células sanguíneas e deixa o doente exposto a infecções.

Hamerschlak diz que os remédios usados no tratamento estão evoluindo e se tornado menos tóxicos.

Um estudo conduzido com 79 pacientes com mais de 55 anos, parte deles tratada no Einstein nos últimos cinco anos, mostrou uma sobrevida de 70% em dois anos para aqueles em primeira remissão da doença -que tinham feito um tratamento de químio e conseguiram fazer a leucemia recuar.

"O grande recado desse estudo é que não devemos relegar o idoso a um tratamento menos eficaz. Hoje, essas pessoas são até descartadas [da possibilidade de fazer um transplante]. Os próprios médicos não estão preparados", diz Hamerschlak.

Outra alternativa é usar também remédios que aumentam a força das células transplantadas contra as cancerosas que ainda restarem no corpo do doente.

O esforço se justifica: a maior causa de morte dos pacientes mais velhos é a volta da doença, enquanto que para os mais jovens os problemas mais comuns são as complicações do próprio transplante.

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