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País investe em produção de células-tronco

Pacote anunciado pelo Ministério da Saúde prevê R$ 15 milhões para qualificar oito centros de tecnologia celular

Para pesquisadores do setor, é preciso reduzir burocracia que trava importação de material para estudos

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

O Ministério da Saúde anunciou ontem um pacote de R$ 15 milhões para expandir a produção nacional e pesquisa de células-tronco embrionárias e adultas. Hoje, a maior parte das células e dos insumos utilizados em pesquisa é importada.

Pesquisadores afirmam, no entanto, que "só dinheiro não ajuda". Eles reclamam da burocracia para a importação e exportação de material e da dificuldade de manter pessoal qualificado em razão dos baixos salários.

Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, R$ 8 milhões serão investidos na reestruturação e qualificação de oito Centros de Tecnologia Celular. Três deles estão em atividade (Curitiba, Salvador e Ribeirão Preto) e cinco estão em construção.

É a primeira vez que o ministério destina verba específica para a melhoria dos centros, segundo Padilha. No pacote anunciado ontem, outros R$ 7 milhões vão para editais de pesquisa que serão abertos ainda neste ano.

Padilha disse à Folha que a ideia é que os centros se estruturem para a produção comercial de células-tronco. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já estuda pedidos nesse sentido.

Segundo ele, a prioridade será abastecer o mercado interno. "O que encarece e faz atrasar as pesquisas no Brasil são as importações de células-tronco. Por isso a gente quer suprir o mercado local, seja para as pesquisas, seja para o uso terapêutico."

A meta é que o Brasil também exporte essas células. "Isso depende de regulamentações, registros. Mas queremos dotar o país de capacidade para exportar."

Para Lygia da Veiga Pereira, professora associada do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP, o valor que cada centro receberá (em torno de R$ 1 milhão) "não é um espetáculo", mas é bem-vindo.

"O grande problema que vivemos é com a burocracia. Não dá para continuar perdendo material biológico nos aeroportos porque precisa de um monte de selo", diz ela, que coordena pesquisa com células-tronco embrionárias.

"Ou as células não chegam ou chegam mortas", emenda a também professora da USP Patrícia Beltrão Braga, que estuda células-tronco extraídas da polpa do dente de leite. Ela diz que recentemente perdeu material biológico vindo da Alemanha, que estava numa caixa esterilizada, porque um técnico da Anvisa a abriu sem os cuidados necessários.

Stevens Rehen, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador do Lance (Laboratório Nacional de Células-Tronco), também se queixa da dificuldade de manter pessoal qualificado nos laboratórios.

"Meus pesquisadores ganham R$ 2.000, R$ 2.500. Quando recebem uma proposta melhor, vão embora."

O secretário de Ciência e Tecnologia do ministério, Carlos Gadelha, reconhece os entraves regulatórios, mas diz que a pasta já está "construindo uma solução".

Segundo ele, um projeto-piloto começará a ser desenvolvido em alguns aeroportos brasileiros para agilizar a liberação de material de pesquisa importado.

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