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Técnica trata próstata com mais precisão

Estudo mostra que ultrassom direcionado só nos pontos onde há tumor é eficaz e causa poucos efeitos colaterais

Maioria dos homens submetidos à terapia manteve ereção; método é considerado experimental no Brasil

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE “CIÊNCIA+SAÚDE”

Um tratamento que usa ondas de ultrassom concentradas só nas partes da próstata atingidas por tumores demonstrou causar poucos efeitos colaterais, em comparação aos tratamentos-padrão, como cirurgia e radioterapia.

Uma pesquisa financiada pelo governo britânico e publicada na revista "Lancet Oncology" ontem trouxe os resultados do tratamento feito em 42 homens com idades entre 45 anos e 80 anos, com tumores localizados e de grau inicial até agressivo.

Todos passaram por ressonâncias magnéticas, que localizaram as regiões do órgão atingidas por tumores, e pelo ultrassom de alta frequência, que usa calor para destruir o tecido doente.

Entre os que tinham ereções no início do tratamento (35 homens), cerca de 90% mantiveram a função ao final dos 12 meses da pesquisa, sendo que 14 deles precisavam da ajuda de remédios. O tratamento também não causou incontinência urinária.

Até 20% dos homens que passam por cirurgia de retirada da próstata ou radioterapia sofrem de disfunção erétil após o tratamento. Problemas para controlar o fluxo de urina atingem de 30% a 70% dos doentes.

EXPERIÊNCIA NACIONAL

No Brasil, a versão da máquina usada no tratamento, chamada de Hifu (ultrassom com foco de alta intensidade, na sigla em inglês), só existe no Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. O Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) tem um outro tipo de Hifu, usado para miomas e metástases ósseas.

Gustavo Cardoso Guimarães, diretor de urologia do A.C. Camargo, afirma que 30 pacientes foram tratados com o ultrassom. Desses, 24 receberam as ondas na próstata inteira e seis foram tratados de forma focal, como no estudo britânico.

O urologista afirma que a máquina é a única que permite tratar só uma parte ou algumas partes da próstata e ainda preservar os nervos. "Conseguimos tratar a doença com menor impacto na qualidade de vida."

A dificuldade, diz Guimarães, é se certificar da localização do tumor ou dos tumores. "Fazemos uma ressonância e biópsias em vários pontos da próstata." É preciso também aprimorar os métodos de acompanhamento do paciente após o tratamento, para saber se a doença foi controlada mesmo.

"Podemos fazer exame de PSA [exame de sangue], que não é muito preciso, e biópsias. Há um estudo em andamento na FDA [agência de vigilância sanitária dos EUA] sobre isso."

Marcos Menezes, especialista em intervenções guiadas por imagem do Icesp, afirma que, apesar dos resultados promissores, a técnica testada pelos britânicos ainda é experimental. Para o radiologista, falta precisão ao aparelho específico para tratar a próstata no procedimento.

O Hifu usado no Icesp para miomas e metástases ósseas age junto com uma ressonância magnética, que guia o médico para achar os alvos. "Mas essa técnica, para próstata, ainda está em teste."

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