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Paciente espera mais de cem dias por radioterapia

Conclusão é de relatório do Tribunal de Contas da União, que fez auditoria na política de atendimento ao câncer

Governo afirma que vai comprar mais 48 máquinas de radioterapia nos próximos três anos

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE
JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA
DENISE MENCHEN
DO RIO
Rafael Andrade/Folhapress
Pacientes aguardam consulta no Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, no Rio; centro de referência tem espera média de 30 dias para químio e 21 dias para radioterapia
Pacientes aguardam consulta no Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, no Rio; centro de referência tem espera média de 30 dias para químio e 21 dias para radioterapia

Um relatório recente do TCU (Tribunal de Contas da União), que realizou uma auditoria na política nacional de atenção oncológica, aponta que, entre diagnóstico e início da quimioterapia, os pacientes do SUS esperam, em média, mais de 70 dias.
Só 35,6% dos pacientes conseguem o tratamento até 30 dias após o diagnóstico. Para fazer radioterapia, a situação é pior: a espera média passa de cem dias.
O problema persiste apesar da maior atenção que o governo federal tem dado ao atendimento oncológico.
Em 2005, foi criada uma política nacional de atenção oncológica, que organizou o atendimento, credenciando unidades aptas a tratar os pacientes que já têm diagnóstico de câncer pelo país.
Hoje, são 276 serviços cadastrados. Cada Estado tem ao menos um desses centros, que podem ser Unacons (Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia), que atendem ao menos os tipos mais comuns de câncer (mama, próstata, colo do útero, estômago, cólon e reto), ou Cacons (Centros de Assistência de Alta Complexidade Oncológica), para todos os tipos de tumor.

RADIOTERAPIA
A falta de equipamentos cria um gargalo no atendimento de radioterapia, que usa um tipo de raio-X direcionado à região do tumor para destruir as células doentes.
O governo reconhece que, nas regiões Norte e Nordeste, a situação é mais crítica. "Temos vazios de atendimento também no Centro-Oeste e em regiões do Sul e do Sudeste", afirma Helvécio Magalhães, secretário nacional de Atenção à Saúde do ministério.
"Dois terços dos serviços de câncer têm radioterapia. Vamos comprar mais 48 máquinas nos próximos três anos", diz o secretário.
O oncologista Rafael Kaliks, diretor científico da Oncoguia, ONG que dá apoio a pacientes com câncer, critica o descredenciamento de serviços isolados de radioterapia, que vêm sendo excluídos do sistema em favor do tratamento integral dos pacientes nos centros especializados.
"Atendimento integral é ótimo, mas até as novas máquinas chegaram, como ficam os pacientes?", diz.
Luiz Antonio Santini, diretor-geral do Inca (Instituto Nacional de Câncer), no Rio, defende as parcerias com a iniciativa privada para suprir a demanda por radioterapia.
O problema será garantir a atualização dos valores pagos pelo serviço ao longo do tempo. Também falta mão de obra especializada, como os físicos médicos, indispensáveis na radioterapia.

QUÍMIO NA JUSTIÇA
As limitações orçamentárias levam muitos a exigir os remédios mais modernos e caros na Justiça.
Segundo a Advocacia-Geral da União, há 47.142 ações envolvendo o SUS que pedem medicamentos (oncológicos ou não), próteses e tratamentos. Entre 2009 e 2010, cresceu 6% o número de novas ações solicitando remédios. Segundo a AGU, a maior parte das ações não chega ao governo federal e sim a municípios e Estados, responsáveis diretamente pelos hospitais.
"Se um hospital quer tratar uma mulher com o remédio trastuzumabe, para câncer de mama com metástase, custa R$ 7.000 por mês. Não cabe no orçamento do SUS. O médico só pode usar se o hospital tem outra fonte de renda. Em São Paulo, o Estado complementa", diz Kaliks.
Paulo Hoff, diretor do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), afirma que há oito dessas drogas oncológicas mais caras fornecidas em hospitais de câncer em São Paulo. "A gente não pode se descuidar das novas tecnologias, mas é tão ou mais importante que elas cheguem ao paciente em tempo hábil."
No Icesp, aberto há três anos, já há serviços com filas. "Tratamentos para tumores mais comuns podem ter mais de um mês de espera."
Para Hoff, é preciso melhorar o treinamento para que os médicos da atenção básica reconheçam os sinais do câncer. "A doença é a segunda que mais mata no mundo, mesmo assim a oncologia é pouco valorizada nas faculdades de medicina."

Colaboraram AGUIRRE TALENTO, de Belém, GRACILIANO ROCHA, de Salvador,* LUIZA BANDEIRA, de São Paulo, e RODRIGO VARGAS, de Cuiabá

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