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Entrevista - Roberto Kalil

InCor vai precisar passar por um choque de gestão

MÉDICO DE DILMA E DE LULA ASSUME POSTO DE DIRETOR DE CARDIOLOGIA DO INCOR E FALA EM USAR INFLUÊNCIA POLÍTICA EM FAVOR DO HOSPITAL

Adriano Vizoni/Folhapress
O cardiologista Roberto Kalil, em seu escritório no InCor
O cardiologista Roberto Kalil, em seu escritório no InCor

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

Na última sexta-feira, em uma cerimônia cercada de pompas, com a presença da presidente Dilma Rousseff, do governador Geraldo Alckmin, do ex-governador José Serra e do presidente do Senado José Sarney, Roberto Kalil, 52, tomou posse como professor titular do Departamento de Cardiopneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Na esteira dessa nomeação, Kalil assumiu o cargo de diretor da divisão de cardiologia do Instituto do Coração (InCor).
Malufista, ganhou fama pela lista de pacientes ilustres, políticos de todos os matizes -além dos acima mencionados e do próprio Maluf, que é seu padrinho de casamento, Kalil cuida da saúde de Lula há 20 anos e chefia a equipe médica que trata de seu câncer na laringe.
Inquieto, Kalil diz trabalhar 16 horas por dia. Nem ele consegue cumprir a rotina de prevenção que prescreve normalmente aos pacientes, de uma hora de exercícios por dia (ele afirma fazer duas horas semanais).
O médico recebeu ontem a Folha e pela primeira vez falou como gestor do InCor.

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Folha - Pacientes levam mais de um ano para agendar exames no InCor. Uma reportagem recente falava em mais de seis meses para cirurgias de válvula ou das coronárias. Quais são seus planos?
Roberto Kalil - A situação já está melhor, mas a gente sabe das dificuldades financeiras pelas quais o instituto vem passando nos últimos anos. E esse baque econômico se reflete em suas atividades. A área de ensino e pesquisa vai bem, mas pode melhorar.
O atendimento fica prejudicado: menos funcionários e menos aparelhagem sendo renovada. As filas continuam grandes, assim como o pronto-socorro, superlotado.

O que pretende fazer?
Antes de mais nada, um choque de gestão. Sinto que há um desânimo geral por aqui. Não pode ser assim, somos a maior referência em cardiologia da América Latina. Pretendo fazer uma gestão dura, presente e austera. Eu vou controlar por GPS todos os médicos e funcionários. Coitados deles, mas vai melhorar (risos).

Em que áreas? Dê exemplos.
O sistema aqui implantado tem 30 anos e não foi modernizado. Por exemplo, não tem sentido um hospital como este não ter uma central de controle de leitos. Hoje cada grupo tem seus leitos -das equipes especializadas em arritmia, em válvula, em coronária, assim por diante. Qualquer hospital moderno centraliza isso. As equipes não podem ser donas dos leitos.

Que mais?
A informatização do InCor é uma das melhores do mundo, só que é subutilizada. Quero determinar o uso desse sistema por todos os médicos. E não há um centro de prevenção que coordene o país inteiro. Já temos o piloto de um centro com estudos sobre epidemiologia. Essa é uma ótima ferramenta para levar conhecimento aos outros hospitais. Além disso, já na semana que vem vou criar um departamento de imagem e cardiologia.

Para quê?
Um paciente internado hoje fica uma semana para conseguir fazer todos os exames pré-operatórios. Com esse departamento, você otimiza isso. E também pretendo estender a rotina. Hoje trabalhamos até às cinco ou seis da tarde, agora vai funcionar até às dez. Com isso, a gente vai conseguir diminuir as filas.

Como você pretende implementar todas essas mudanças, há dinheiro?
Sensibilizando as autoridades. Claro que os contatos jogam a favor. Ontem mesmo liguei para o secretário estadual de saúde umas 15 vezes e ele me atendeu as 15.

Como você enxerga o debate sobre dupla-porta no InCor?
O convênio, que representa 20% do atendimento, por enquanto é necessário -porque é verba, e representa 40% do orçamento da instituição. Em qualquer UTI do InCor os pacientes do SUS e do convênio ficam lado a lado. No pronto-socorro, não. É onde está a polêmica. Já estamos adequando os dois prontos-socorros, do SUS e do convênio. Eles serão um só. Porém o problema é mais profundo, a superlotação é uma questão de saúde pública.

Como está o Lula?
O câncer é sempre um trauma, tem um efeito surpresa. Mas Lula tem muita chance de ir bem. É claro que foi um baque, mas psicologicamente ele está ótimo. O Lula sempre foi um otimista e agora não é diferente.

Que achou da polêmica sobre internação do Lula no Sírio-Libanês e não no SUS, que ele elogiava em seus discursos?
Ele paga convênio médico há décadas. Por que não usar? Porque discursou a vida inteira? Ele sempre se tratou no InCor. Se agora põe ele para tratar no InCor um câncer de laringe, vão falar que está ocupando o lugar do infartado. Ou no Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo). Aí vão falar que foi ocupar o leito de um pobre.

Como o sr. se define politicamente?
Sou malufista, sempre votei no Maluf. Até hoje. Mas veja, voto a gente não declara. Sou médico da Dilma e do Serra (risos).

Como são os políticos na sala de consulta?
Todos são pacientes comuns. As reações são iguais. Na frente do médico eles choram, brincam e riem. O importante é você tratar o paciente, não o cargo.

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