São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2010

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Stent pode ser tão eficaz quanto cirurgia

Procedimento para desobstruir artéria do pescoço mostrou-se ainda igualmente seguro para reduzir risco de derrame

A conclusão é da maior pesquisa que comparou as duas técnicas; trabalhos anteriores apontavam que o stent era menos seguro

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O cateterismo com implante de stent na carótida é tão seguro e eficaz quanto a cirurgia para desobstrução do vaso. A conclusão é do estudo Crest, a maior pesquisa clínica já feita comparando as duas técnicas para prevenção de derrame em pacientes com estreitamento da carótida. O trabalho foi apresentado na última sexta-feira, no congresso da American Stroke Association, em San Antonio, Texas.
Estudos anteriores apontavam que o stent era menos seguro que a cirurgia. Os resultados do Crest mostram que pessoas com risco de derrame por causa do estreitamento da artéria do pescoço podem se beneficiar da técnica do cateterismo com stent, que é menos invasiva, correndo riscos estatisticamente similares.
A pesquisa, que incluiu 2.502 pessoas e 117 centros médicos nos Estados Unidos e no Canadá, foi coordenada por especialistas da Clínica Mayo e da Universidade de Medicina de Nova Jersey. Além de mostrar riscos e benefícios praticamente iguais nas duas técnicas, o estudo apontou em que casos específicos cada procedimento tem um risco ligeiramente maior. Os dados mostram que a cirurgia diminui um pouco mais o risco de derrame, enquanto o stent diminui ligeiramente o risco de infarto após a realização do procedimento.

Opiniões divididas
O cateterismo com implantação de stent na carótida foi realizado pela primeira vez em 1994. O cateter é introduzido na artéria do pescoço e um pequeno balão é inflado no local, para desbloquear o vaso. O stent, que é um tubo metálico perfurado, é implantado para manter a artéria aberta.
O procedimento cirúrgico, chamado de endarterectomia, é feito desde a década de 1950.
Ambos os procedimentos podem ser indicados para pacientes que sofreram microderrames ou que apresentam 70% ou mais de obstrução da artéria carótida. Obstruções menores são tratadas clinicamente, com medicamentos.
Mirto Prandini, professor de neurocirurgia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo, acredita que o stent é a melhor opção. "A questão é muito debatida e estudos anteriores mostravam que [o procedimento] não teria vantagens evidentes. Porém, considero o stent mais vantajoso. É menos agressivo e mais rápido. Se os riscos e benefícios são similares, é a melhor opção."
Eduardo Mutarelli, neurologista do hospital Sírio-Libanês, tem opinião contrária. "Todos os estudos, até agora, mostram que a cirurgia é melhor. Esse mostra que, no máximo, os dois procedimentos "empatam". Por enquanto, continuo preferindo a técnica consagrada, a não ser em casos em que há indicação específica para stent", diz o neurologista.
Segundo ele, o stent pode ser indicado para pacientes em condições de saúde mais precárias, com diabetes ou com insuficiência cardíaca, por exemplo, que correm mais risco de piorar o quadro devido ao estresse cirúrgico. Também é feito quando a posição da placa de gordura que obstrui a artéria no pescoço é de difícil acesso.


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