São Paulo, quarta-feira, 01 de julho de 2009

Próximo Texto | Índice

Síndrome metabólica pode ter novo marcador

Estudo da Unicamp investiga relação entre tamanho do pescoço e da coxa

Medida do abdômen pode sofrer várias interferências; síndrome é caracterizada pela obesidade central e pela resistência à insulina

GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo que está sendo desenvolvido por pesquisadores na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) busca propor a relação entre as medidas do pescoço e da coxa como um novo marcador de risco para a síndrome metabólica.
Essa proporção poderá complementar e até substituir a circunferência abdominal, usada para definir os fatores de risco para doenças cardiovasculares.
Segundo os autores, a medida da cintura pode sofrer interferências. Nos obesos, por exemplo, o abdômen em pêndulo (quando a barriga está caída) dificulta a medida. Nas mulheres, fatores como cirurgias plásticas e pneuzinhos de gordura interferem nos dados. O tamanho do osso do quadril também pode fazer diferença.
"Exames de ultrassom mostram que indivíduos com a mesma circunferência abdominal podem ter perfis metabólicos diferentes", conta o endocrinologista Bruno Geloneze, um dos líderes do trabalho.
A pesquisa faz parte do estudo Brams (Brazilian Metabolic Syndrome Study), que começou há quatro anos e já avaliou cerca de 3.000 pessoas.
O próximo passo é confirmar nos voluntários, através de exame de sangue, a presença da resistência à insulina -um dos pilares da síndrome. Os dados devem sair até o fim do ano. Mas já sabe-se que, quanto maior a relação pescoço-coxa, pior o perfil metabólico.
O pescoço foi escolhido como marcador de risco porque só aumenta de tamanho quando há acúmulo de gordura (excetuando-se os problemas na tiroide, como o bócio). E essa gordura tem estreita correlação com a chamada gordura troncular-aquela presente no tronco, composta tanto de gordura visceral quanto de gordura subcutânea profunda, ambas consideradas nocivas.
Já a coxa, por sua vez, seria um marcador de proteção contra doenças porque tem basicamente músculo e gordura subcutânea superficial, que tem efeitos protetores. A medida do fêmur quase não interfere.
A síndrome metabólica tem relação com a localização do acúmulo da gordura no corpo. A falta de gordura na periferia (quadris, pernas, coxas) e o excesso na região central seriam o estopim para o distúrbio.
A localização da gordura é geneticamente determinada, mas há também um fator hormonal, pois o estrogênio estimula o depósito na periferia. Por isso as mulheres acumulam mais nas coxas e quadris, enquanto os homens ficam mais barrigudos.
Enquanto as células de gordura da periferia são menores e se quebram menos, na região visceral ocorre o oposto: células grandes, que se quebram facilmente. Ao se quebrar, elas liberam ácidos graxos que vão para o fígado. Isso atrapalha seu funcionamento, que produz mais glicose e triglicérides e gera resistência à insulina.
A gordura visceral também produz proteínas que causam inflamações nos vasos, por exemplo. Já a gordura periférica fabrica adiponectina, que tem ação contrária.

Atuais medidas
Para o endocrinologista Amélio Godoy Matos, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a atual forma de medir o risco metabólico é eficiente. "A medida do abdômen tem uma ótima correlação com a gordura visceral."
Segundo Marcio Mancini, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, a medida do pescoço é muito usada para apontar o risco de apneia, que está relacionado à síndrome.


Próximo Texto: Nem todo obeso tem a síndrome
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.