|
Próximo Texto | Índice
Síndrome metabólica pode ter novo marcador
Estudo da Unicamp investiga relação
entre tamanho do pescoço e da coxa
Medida do abdômen pode
sofrer várias interferências;
síndrome é caracterizada
pela obesidade central e
pela resistência à insulina
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo que está sendo
desenvolvido por pesquisadores na Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas) busca
propor a relação entre as medidas do pescoço e da coxa como
um novo marcador de risco para a síndrome metabólica.
Essa proporção poderá complementar e até substituir a circunferência abdominal, usada
para definir os fatores de risco
para doenças cardiovasculares.
Segundo os autores, a medida da cintura pode sofrer interferências. Nos obesos, por
exemplo, o abdômen em pêndulo (quando a barriga está caída) dificulta a medida. Nas mulheres, fatores como cirurgias
plásticas e pneuzinhos de gordura interferem nos dados. O
tamanho do osso do quadril
também pode fazer diferença.
"Exames de ultrassom mostram que indivíduos com a
mesma circunferência abdominal podem ter perfis metabólicos diferentes", conta o endocrinologista Bruno Geloneze,
um dos líderes do trabalho.
A pesquisa faz parte do estudo Brams (Brazilian Metabolic
Syndrome Study), que começou há quatro anos e já avaliou
cerca de 3.000 pessoas.
O próximo passo é confirmar
nos voluntários, através de exame de sangue, a presença da resistência à insulina -um dos
pilares da síndrome. Os dados
devem sair até o fim do ano.
Mas já sabe-se que, quanto
maior a relação pescoço-coxa,
pior o perfil metabólico.
O pescoço foi escolhido como
marcador de risco porque só
aumenta de tamanho quando
há acúmulo de gordura (excetuando-se os problemas na tiroide, como o bócio). E essa
gordura tem estreita correlação com a chamada gordura
troncular-aquela presente no
tronco, composta tanto de gordura visceral quanto de gordura subcutânea profunda, ambas
consideradas nocivas.
Já a coxa, por sua vez, seria
um marcador de proteção contra doenças porque tem basicamente músculo e gordura subcutânea superficial, que tem
efeitos protetores. A medida do
fêmur quase não interfere.
A síndrome metabólica tem
relação com a localização do
acúmulo da gordura no corpo.
A falta de gordura na periferia
(quadris, pernas, coxas) e o excesso na região central seriam o
estopim para o distúrbio.
A localização da gordura é geneticamente determinada, mas
há também um fator hormonal,
pois o estrogênio estimula o depósito na periferia. Por isso as
mulheres acumulam mais nas
coxas e quadris, enquanto os
homens ficam mais barrigudos.
Enquanto as células de gordura da periferia são menores e
se quebram menos, na região
visceral ocorre o oposto: células grandes, que se quebram facilmente. Ao se quebrar, elas liberam ácidos graxos que vão
para o fígado. Isso atrapalha
seu funcionamento, que produz mais glicose e triglicérides
e gera resistência à insulina.
A gordura visceral também
produz proteínas que causam
inflamações nos vasos, por
exemplo. Já a gordura periférica fabrica adiponectina, que
tem ação contrária.
Atuais medidas
Para o endocrinologista
Amélio Godoy Matos, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a atual forma de medir o risco metabólico
é eficiente. "A medida do abdômen tem uma ótima correlação
com a gordura visceral."
Segundo Marcio Mancini, da
Associação Brasileira para o
Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, a medida do
pescoço é muito usada para
apontar o risco de apneia, que
está relacionado à síndrome.
Próximo Texto: Nem todo obeso tem a síndrome Índice
|