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País cria grupos de apoio para transtornos mentais
Governo financiará reuniões de ajuda mútua no estilo de Alcoólicos Anônimos
Medida é parte do plano de humanização do setor, mas não prioriza atendimento médico, critica psiquiatra
FERNANDA BASSETTE
DE SÃO PAULO
O Ministério da Saúde vai
incentivar com recursos financeiros a criação de grupos de ajuda mútua para pacientes com transtornos
mentais em todo o país.
Inspirados no Alcoólicos
Anônimos e em serviços dos
EUA e da Europa, os grupos
de apoio reúnem pacientes
para discutir problemas do
dia a dia e criar maneiras
simples de driblá-los.
O plano faz parte da Reforma Psiquiátrica, iniciada em
2001, que tem como objetivo
eliminar gradualmente os
hospitais psiquiátricos e tratar os pacientes em centros
de atenção psicossocial.
A proposta será votada hoje durante a 4ª Conferência
Nacional de Saúde Mental,
que acontece em Brasília.
"O ministério considera
esses grupos uma ferramenta
importante para a reabilitação social dos pacientes. Se
for aprovado, e eu espero que
seja, isso será incorporado ao
programa nacional de saúde
mental", afirmou Pedro Gabriel Delgado, coordenador
de Saúde Mental, Álcool e
Drogas do ministério.
O número de grupos e o total da verba que será liberada
ainda não estão definidos. Isso depende do interesse das
cidades e das associações de
familiares de pacientes com
transtorno mental candidatas a receber a verba para a
formação desses grupos. Hoje, há 140 associações cadastradas no ministério.
Um projeto piloto está em
andamento no Rio de Janeiro, em Angra, e em Teresina
(PI) há dois anos. O trabalho
é coordenado pelo psicólogo
e professor da UFRJ Eduardo
Mourão Vasconcelos.
Segundo ele, o ministério
liberou R$ 180 mil para serem investidos na capacitação dos voluntários -que
são ex-pacientes na fase
avançada de reabilitação.
A dinâmica, no entanto, é
um pouco diferente da praticada nos Alcoólicos Anônimos: o grupo de apoio mútuo
não segue a cartilha de 12
passos para se recuperar.
"O método de 12 passos
tem pontos positivos, mas
tem uma doutrina muito endurecida. Nossa proposta é
ter uma dinâmica mais livre", diz Vasconcelos.
Valentin Gentil, chefe do
Departamento de Psiquiatria
do Instituto de Psiquiatria da
USP, critica a liberação de recursos para a formação desses grupos e diz que o governo deveria investir em mais
ambulatórios e CAPS (centro
de atenção psicossocial).
"Existe um conflito muito
grande por trás disso tudo,
parece uma ação antimédicos. Os grupos de apoio não
são ruins, mas cada vez mais
o ministério usa os recursos
da saúde sem priorizar o
atendimento médico. Não
vejo mudança nenhuma que
favoreça a população", afirma o psiquiatra.
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