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Técnica para tratar câncer usa congelamento do osso
Tratamento com crioterapia está sendo aplicado em quatro hospitais do Brasil
Técnica é mais barata do que a prótese, que costuma ser colocada no lugar do osso afetado; especialista vê exigência de mais estudos
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao menos quatro hospitais
brasileiros estão tratando câncer nos ossos com crioterapia,
técnica em que o osso doente é
retirado do paciente, congelado
em nitrogênio líquido e depois
reimplantado. O método foi desenvolvido no Japão, onde já é
usado rotineiramente há pelo
menos dez anos.
A maioria dos centros que
tratam câncer nos ossos usa o
procedimento padrão: depois
da quimioterapia, o paciente
passa por uma cirurgia em que
o osso é retirado e descartado.
Em seguida, o local recebe uma
prótese, um osso de doador ou
um osso do próprio paciente.
Há pouco mais de um mês, o
Hospital das Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas) passou a usar a
técnica e operou uma jovem de
24 anos, que tinha um sarcoma
de Ewing (tipo de tumor). Ela já
recebeu alta e se recupera bem.
Outro paciente deve ser operado nas próximas semanas.
"A ideia é transformar essa
cirurgia em rotina na ortopedia
oncológica. Todos que tiverem
indicação passarão por esse
procedimento. É uma técnica
muito simples, mais barata e
sem risco de rejeição", afirma o
ortopedista oncológico Maurício Etchebehere, professor da
Unicamp e chefe do Departamento de Ortopedia.
Um dos primeiros a usar a
técnica no Brasil foi o professor
Márcio Fernando de Moura, da
Universidade Federal do Paraná. Desde 2003, ele já operou
35 pacientes em dois centros
-Hospital das Clínicas de Curitiba e Hospital de Fraturas 15.
Nenhum dos pacientes operados por ele teve recidiva (reaparecimento do tumor).
O Hospital de Câncer de Pernambuco, o segundo a usar o
método no Brasil, já operou 22
pacientes -o tumor voltou em
dois deles. "Essa cirurgia é mais
uma arma terapêutica que a
gente tem para tratar o câncer
ósseo. É um método simples,
acessível e que traz resultados
satisfatórios", acredita o ortopedista oncológico Antônio
Marcelo Gonçalves de Souza,
chefe do Departamento de Ortopedia do hospital.
Segundo Souza, a cirurgia pode tratar cânceres primários
(que começam nos ossos) e secundários (metástases).
O protocolo padrão de tratamento, que inclui ciclos de quimioterapia, é mantido. "Isso
não muda nada. A diferença é
que em vez de o paciente colocar uma prótese ou um enxerto
de cadáver, vai receber o próprio osso tratado", explica.
De acordo com Maurício Etchebehere, o congelamento
mata todas as células do osso
-tanto as doentes quanto as
sadias. E, depois de reimplantado, lentamente esse osso volta a
ser nutrido e vascularizado.
Mais barata
Os três cirurgiões afirmam
que a técnica é mais barata do
que a convencional -uma prótese pode custar entre R$ 5.000
e R$ 15 mil, enquanto o nitrogênio líquido usado no procedimento custa cerca de R$ 100.
"O Brasil tem pouquíssimos
bancos de ossos [hoje são apenas quatro em funcionamento], o que dificulta o acesso aos
enxertos. Além disso, temos
um problema cultural: poucas
pessoas aceitam doar seus ossos", diz Antônio Souza.
A recuperação pós-cirúrgica
nesses casos é igual à recuperação tradicional. O paciente precisa usar muletas e restringir a
carga no membro operado por,
no mínimo, três meses.
Assim como qualquer outro
tipo de tumor, há risco de o
câncer voltar a aparecer. De
acordo com o Inca (Instituto
Nacional de Câncer), o percentual aceitável de reaparecimento do tumor varia de 5% a 10%
da amostra de pacientes.
Roberto André Torres de
Vasconcelos, ortopedista da Seção de Tecido Ósseo Conectivo
do Inca, diz que a crioterapia é
uma técnica que deve ser considerada, mas que ela não é a melhor opção de tratamento.
Para ele, não há garantia de
que todas as células cancerígenas sejam destruídas durante
os 20 minutos de congelamento. "Se congelar demais, o osso
pode ficar enfraquecido e mais
suscetível a fraturas; se congelar menos do que o necessário,
há o risco de alguma célula
doente continuar no local. Por
isso, não sei se essa é a melhor
alternativa", avalia.
Na opinião de Vasconcelos, o
ideal seria fazer estudos comparando todas as técnicas existentes para ser possível avaliar
qual delas apresenta, de fato, o
melhor prognóstico. "Sei que
isso é difícil porque esse não é
um câncer comum", pondera.
O câncer primário dos ossos
não está entre os dez mais comuns do Brasil e acomete mais
os adultos jovens. Os tumores
secundários atingem mais pacientes acima de 45 anos.
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