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InCor testa novo enxerto cardíaco
Ideia é revascularizar miocárdio usando artéria da coxa, e não veia safena, que se desgasta mais facilmente
Método, que já é realizado por italianos e foi testado em 20 brasileiros, pode beneficiar obesos mórbidos, diabéticos e pessoas idosas
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 20 pacientes do InCor (Instituto do Coração) já
receberam um novo tipo de enxerto para a cirurgia de revascularização do miocárdio. O
procedimento é popularmente
conhecido como ponte de safena, pois, quando começou a ser
feito, nos anos 60, usava a veia
safena, localizada na perna.
O problema é que essa veia
sofre uma deterioração com o
tempo. Agora, pesquisadores
da instituição avaliam se a utilização de uma artéria, também
localizada na perna, pode trazer resultados melhores do que
os obtidos com a safena.
A cirurgia de revascularização do miocárdio trata a obstrução das artérias coronárias e
consiste na criação de um desvio para que o sangue flua normalmente. O sangue arterial,
porém, flui numa pressão
maior do que o venoso, e a safena se desgasta com mais facilidade quando em contato com
ele -estima-se que de 20% a
30% das pontes feitas com safena se fechem em dez anos.
A melhor opção de enxerto
hoje são as duas artérias mamárias. A vantagem, explica o cirurgião Fabio Gaiotto, do InCor, é que elas sofrem uma remodulação -respondem ao esforço exigido e ajustam sua dilatação ao fluxo de sangue.
A proposta de Gaiotto é checar se a artéria da perna é capaz
de passar pela mesma transformação. "Se ela remodelar, teremos três "mamárias". A artéria
da perna passará a ser um enxerto de primeira escolha", diz.
Segundo ele, o procedimento
já vem sendo feito por cirurgiões italianos e é seguro. Ele
afirma que a cirurgia não afeta
os movimentos da perna e não
faz falta à irrigação sanguínea
do membro porque serve como
um "estepe" para a vascularização da região. "Ela só fará falta
se o paciente tiver uma insuficiência arterial periférica."
Gaiotto pretende operar 30
pacientes com o novo enxerto.
Após o procedimento, cada um
passará por uma tomografia da
coronária com uma semana,
um mês e três meses. O exame
permite avaliar o diâmetro do
enxerto, que é, então, comparado ao de uma artéria mamária
remodelada.
Até agora, uma das cirurgias
não foi bem-sucedida, mas isso
não trouxe danos ao paciente.
Segundo ele, é normal uma perda de 1% a 5% dos enxertos.
Opção
Atualmente, outros tipos de
artéria também são utilizados
na revascularização do miocárdio. Uma das principais é a radial, retirada do braço. Porém,
ela é curta, e estudos mostram
que ela não tem durabilidade
superior à de uma veia safena,
diz o cirurgião Renato Kalil, diretor da Sociedade Brasileira
de Cardiologia e professor da
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
A artéria da perna leva vantagem na extensão. Segundo
Gaiotto, um bom comprimento
para enxerto é acima de 12 centímetros. A artéria da coxa tem
de oito a 18 centímetros, dependendo da altura da pessoa.
"Em geral, consegue-se tratar tudo com as mamárias e a
safena", afirma Kalil. "Trata-se
de mais uma opção, mas ela não
tomará o lugar das outras antes
de mostrar que é superior." Para confirmar essa superioridade, diz, é necessário que ela seja
usada extensamente e por muito tempo. "Não se prevê um impacto imediato no tratamento."
Gaiotto afirma que o novo
enxerto pode ser importante
para pacientes para os quais o
uso da artéria mamária não é
recomendado, como diabéticos, obesos mórbidos e idosos.
Isso porque a artéria mamária
irriga o osso esterno, que é cortado para a cirurgia e pode infeccionar. "Nos jovens, formam-se desvios e a irrigação
sanguínea continua a ser feita.
Já nos diabéticos, por exemplo,
há uma pobreza capilar e a cicatrização não é tão boa."
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