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Cirurgia para testículo que não desce é indicada antes
Operação deve ser feita até um ano de idade, preferencialmente aos seis meses
Antigamente, médicos esperavam até os dois anos; problema é comum e, se não corrigido, aumenta o risco de infertilidade e de câncer
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Meninos cujos testículos não
descem para a bolsa escrotal
até os seis meses de idade devem ser operados antes de
completar um ano. Após essa
idade, aumentam as chances de
câncer testicular e de infertilidade, alertam os urologistas.
A criptorquidia, ou escroto
vazio, é uma das doenças de tratamento cirúrgico mais comuns da infância. Pode afetar
até 3% dos recém-nascidos.
Entre os prematuros, o índice
chega a 30%.
A intervenção cirúrgica precoce tem sido um tema bastante discutido nos congressos de
urologia. No último evento,
ocorrido em novembro, um dos
palestrantes, o belga Piet Hoebeke, chefe do Departamento
de Uropediatria do Ghent University Hospital, defendeu que
a cirurgia de criptorquidia seja
feita o quanto antes. A recomendação é endossada pela Sociedade Brasileira de Urologia.
"Seis meses é a melhor idade
para tratar. Se você trata precocemente, estará prevenindo o
câncer e a infertilidade", afirmou Hoebeke à Folha.
Segundo ele, se o testículo
não desceu do abdome (local
onde ambos se desenvolvem
durante a vida intrauterina)
para a bolsa escrotal até os seis
meses, dificilmente isso acontecerá depois desse período.
E, se a cirurgia for feita mais
tarde, aumentam os riscos de
câncer de testículo (na população em geral, a chance é de um
caso a cada grupo de 20 mil; entre os meninos com criptorquidia, um a cada 2.000). "A cirurgia precoce diminui em dez vezes o risco de câncer", informa.
A não correção do problema,
segundo ele, também aumenta
em 30% as chances de o garoto
ter a fertilidade prejudicada no
futuro, especialmente nos casos em que os dois testículos
não desceram. Isso ocorre porque a exposição a temperaturas
mais altas (no caso, a região abdominal) pode inviabilizar a
produção de espermatozoides,
causando a infertilidade.
O urologista Antonio Macedo Júnior, chefe da uropediatria da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo), diz que
antigamente os médicos recomendavam esperar até dois
anos para operar o problema.
"Essa indicação está ultrapassada. Antes de um ano já sabemos se vai descer ou não na
apalpação. Se não conseguirmos apalpá-lo ou notarmos os
testículos altos, já é indicação
cirúrgica." Macedo Júnior afirma, porém, que o diagnóstico
precoce não é a realidade no
país, especialmente no SUS.
"Os meninos precisam ter a
sorte de encontrar um pediatra
na rede pública que consiga
identificar o problema. Depois,
precisam ser encaminhados
para uma equipe de urologia,
que já é mais difícil. Nesses gargalos, vai atrasar mesmo."
Outro fator que ainda assusta os pais é a necessidade de
anestesia geral para a cirurgia
de correção da criptorquidia.
"Os pais dizem: "Ah, eu tenho
medo de que meu filho tome
anestesia". Eu digo para eles
que uma hora sob anestesia geral é mais seguro do que passar
uma hora dentro de um carro",
diz Hoebeke.
O médico também é contrário ao tratamento hormonal
clássico, que continua sendo
recomendado por muitos urologistas para acelerar o amadurecimento e a migração dos
testículos para a bolsa escrotal.
"Há cada vez mais e mais provas de que, dando hormônios,
você pode destruir os testículos. E muitos pediatras continuam recomendando o tratamento", afirma.
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