São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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Aos 27, mulher morre em lipoaspiração

Recepcionista iria retirar dois litros de gordura do abdome e sofreu parada cardiorrespiratória duas horas após início da cirurgia

Hospital diz que foi uma "fatalidade" e que paciente havia passado por exames de rotina e estava em "perfeito estado de saúde"

André Vicente / Folha Imagem
Reginaldo, irmão de Regiane, ampara a mãe, durante enterro

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Após passar mais de dois anos economizando dinheiro para realizar seu maior sonho (fazer uma série de cirurgias plásticas na barriga, seios e nádegas), a recepcionista desempregada Regiane Aparecida Bauer Lopes, 27, morreu anteontem após o primeiro procedimento -uma lipoaspiração para retirar de cerca de dois litros de gordura do abdome. A lipoaspiração é hoje a cirurgia plástica mais realizada no país.
Regiane sofreu uma parada cardiorrespiratória por volta das 10h40 de sábado, duas horas após o começo da cirurgia, segundo informou Paulo Sanchez, enfermeiro-chefe do Hospital e Maternidade Master Clin, onde ocorreu o procedimento. Os médicos tentaram reanimá-la: entubação, ventilação, desfribilação, injeção de adrenalina e atropina -nada adiantou. Às 11h33, ela morreu.
O hospital, que realiza cerca de 30 cirurgias plásticas por mês (mais no período de férias, diz Sanches) afirma que a paciente passara por todos os exames de rotina, estava em "perfeito estado de saúde" e que "o que houve foi uma fatalidade" (leia texto nesta página).
O caso foi registrado no 69º DP de Teotônio Vilela, na zona leste (como "morte suspeita"). Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a polícia aguarda o laudo do IML (Instituto Médico Legal) para decidir sobre a abertura do inquérito.
"Não vamos deixar isso barato, essa é nossa única certeza", disse o irmão da paciente, Reginaldo Bauer. A família, diz, já contratou um advogado e vai "pelo menos garantir o futuro do filho". Regiane tinha um filho de oito anos. Recepcionista e secretária, estava desempregada, segundo o irmão, e estava namorando -foi o "paquera" que a acompanhou na cirurgia.

A moda da cirurgia
Enquanto olhavam o corpo jovem de Regiane no caixão -era moça magra, branca, de cabelos negros e lábios muito grossos-, cercado de margaridas, na sala de velório F do cemitério Dom Pedro, na Vila Alpina, zona leste de São Paulo, oito mulheres (parentes, conhecidas e amigas), martelavam a mesma tecla.
"Uma moça tão nova, com tanta vida pela frente, e tão bonita, desgraçar tudo por uma besteira", lamentava a tia, Cleuza Mendes. "E agora virou moda, minha cunhada já fez e a filha de uma amiga também. Não sei onde isso vai parar."
Regiane não era a única mulher do seu círculo de amizades a passar por cirurgias estéticas -algumas amigas, a cunhada da tia e até ex-sogra já haviam feito o procedimento.
"Eu já fiz duas no [hospital] Ruben Berta, que é especializado nisso, e nunca tive problemas", disse a mãe do ex-marido de Regiane, Magnólia Souza Lopes, enquanto retirava uma foto 3x4 da "ex-nora" da bolsa metálica. "Eu avisei pra ela procurar uma clínica boa, especializada nisso, mas ela queria pagar pouco e deu no que deu."

Sonho de uma vida
A família fala do assunto com naturalidade, pois todos sabiam do ideal de Regiane. "Fazer a plástica era o sonho da vida dela", afirma o irmão. "Sabe como é, vaidade de mulher não tem limite. E ela não escondia, saía por aí dizendo que tinha guardado o dinheiro e não adiantava a gente falar. Porque ela não precisava, era uma pessoa linda, cheia de vida."
Bauer diz que a escolha da clínica pela irmã se deu por dois motivos: preço e proximidade. O hospital diz o custo da lipoaspiração varia de R$ 3 mil a R$ 5 mil. Regiane vivia com a mãe na região de São Mateus, zona leste; a clínica fica no bairro Jardim Santa Adélia, a poucos quilômetros da casa da família.
Segundo Bauer, esse foi o primeiro procedimento de cirurgia plástica de Regiane, que falava no assunto o tempo todo. "Ela já fez curso de modelo na adolescência, tinha muita fixação pela imagem", conta. "Depois queria aplicar a prótese de silicone no bumbum e nos seios. Paciência, era o sonho dela. O ideal dela de mulher era essa [mulher] Samambaia."



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