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Agora, até bebês são submetidos a dieta
Por causa de preocupação exagerada com obesidade infantil, mães obrigam filhos a restrições alimentares prejudiciais
Regime inadequado para idade pode levar a deficiência de ferro, desequilíbrio hormonal e baixo crescimento
DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE
Elogiar as dobrinhas daquela criança fofa pode não
ser mais adequado. Mães
preocupadas demais com
obesidade estão regulando a
alimentação dos filhos, isto
é, colocando bebês de dieta.
O fenômeno é raro, mas está crescendo, de acordo com
especialistas. "Já peguei mãe
suprimindo totalmente os
carboidratos da dieta, o que é
um erro. Não pode tirar uma
fonte energética, usada no
crescimento", diz a pediatra
Cristiane Kochi, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
Mães obesas que levam filhos ao consultório com problemas de crescimento vêm
chamando a atenção de Zuleika Halpern, especialista
em obesidade infantil e
membro da Abeso (entidade
para estudo da obesidade).
"Verificamos que elas oferecem alimentos inadequados, como leite desnatado, e
em pouca quantidade, por
medo de as crianças serem
obesas também."
Halpern afirma que, em
um dos casos, quem "entregou" o problema foi a avó da
criança, já que a mãe não admitia que tinha essa conduta.
"É mais comum que as
mães obcecadas com seu
próprio peso "torturem" seus
bebês na alimentação", diz a
médica. Segundo ela, meninas são as maiores vítimas.
TURMA "LIGHT"
Há dois perfis de pais que
submetem os bebês a dietas
por conta própria, diz o pediatra Mauro Fisberg, especialista em nutrição infantil.
O primeiro é o pai obeso
que sofre de culpa e teme que
o filho seja gordo também. O
segundo é o ortoréxico (com
mania de alimentação saudável), que veta carne e doces em favor de produtos
light ou naturais. "Fazem da
criança um laboratório", diz
o médico, que já viu o problema em bebês de oito meses.
Essas restrições podem levar a deficiência de ferro, por
falta de carne, desequilíbrio
hormonal, por falta de gorduras, e a baixo crescimento,
hipoglicemia e alterações no
metabolismo, por falta de
carboidratos.
A paranoia dos pais tem
uma base real. A obesidade
infantil está crescendo no
mundo todo, Brasil incluído.
Dados do IBGE mostram que
um terço das crianças de até
cinco anos está acima do peso. Essa proporção triplicou
desde a década de 70.
MACACÃOZINHO
Nos EUA, onde o problema
é mais grave, a obesidade de
berço já virou até tema para
programa de humor.
O "Saturday Night Live"
(que passa aqui no canal
Sony da TV por assinatura)
fez uma paródia de comercial, na qual o produto era
um macacãozinho elástico,
para deixar bebês mais esbeltos (tinyurl.com/2bz2jhe).
Fisberg conta que, há alguns anos, o termo "obesidade" deixou de ser usado para
bebês nas recomendações
mundiais de crescimento infantil. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde
voltou a incorporar a categoria, dada a gravidade.
Isso não significa que o bebê deva ser colocado de dieta, como se fosse um adulto.
"Se eu tenho uma criança
que come compulsivamente,
posso limitar o volume de alimento, mas preciso saber o
motivo. Mães ansiosas tendem a colocar a criança para
mamar no peito com muita
frequência." Esse comportamento leva a criança a ignorar os sinais do próprio corpo
de que ela está satisfeita.
"O que a gente indica é
uma dieta saudável. Damos
orientações sobre a quantidade certa, o tipo de preparo
e fazemos trocas de alimentos", afirma Cristiane Kochi.
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