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Gelatinas em pó têm muito açúcar e pouco colágeno
Pro Teste avaliou 11 marcas do produto no sabor morango, em versões com e sem açúcar, e constatou irregularidades
Para associação, gelatina não deveria ser consumida por crianças; empresas fabricantes dizem seguir legislação em vigor no Brasil
FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de ser uma sobremesa muito consumida por crianças, a gelatina não deveria fazer
parte da alimentação infantil. É
o que afirma a Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do
Consumidor) após avaliar 11
pós para preparo do produto
sabor morango: quatro na versão tradicional, quatro na versão diet e três na versão zero.
Por conterem adoçantes, as
versões sem açúcar já não eram
recomendadas para crianças
saudáveis. Mas o levantamento
mostrou que mesmo as versões
tradicionais não são indicadas.
Um dos problemas é que
duas das marcas (Royal e Dr.
Oetker) possuem adoçante
mesmo nas versões tradicionais. Segundo a Pro Teste, a informação não tem o destaque
necessário no rótulo. Nos dois
casos, as embalagens trazem
personagens ou promoções
voltados para o público infantil.
"A quantidade de adoçante
que cada um deve ingerir por
dia é calculada com base no peso da pessoa. No caso da criança, é bem mais fácil atingir a dose máxima. Por isso, a não ser
que ela seja diabética ou tenha
acompanhamento de um especialista, não deve ingerir adoçantes", diz a nutricionista Manuela Dias, pesquisadora de alimentos da Pro Teste.
Outro problema detectado
foi excesso de açúcar. A média
nas versões tradicionais foi de
7,9 g por porção, que equivale a
um copo, ou 120 g, de gelatina
pronta. O valor ultrapassa até a
quantidade que adultos devem
consumir: no máximo 7,5 g em
um lanche. Para crianças de um
a três anos, o valor é de 3,9 g. O
produto da Bretzke foi o mais
açucarado: 10,9 g por porção.
A Pro Teste destaca outra
questão que considera preocupante: todas as gelatinas tinham o conservante amarelo
crepúsculo, que vem sendo relacionado à propensão à hiperatividade infantil. No Reino
Unido, a substância é proibida.
As crianças são as mais vulneráveis aos corantes em geral,
diz a nutricionista Edira Gonçalves, professora da UniRio
(Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Segundo
ela, o consumo excessivo pode
debilitar o sistema imune, favorecendo doenças como gripes.
A nutricionista lembra que a
gelatina é apenas um dos produtos ricos em corante no mercado. Ela orientou uma pesquisa, publicada em 2008 na revista "Ciência e Tecnologia de Alimentos", que avaliou o consumo de gelatina, refresco em pó
e refrigerante por 150 crianças.
Concluiu que esses alimentos
são muito comuns na dieta infantil e introduzidos bem cedo:
em relação à gelatina, até um
ano de idade em 95% dos casos.
Pouco nutritiva
Se a presença de colágeno é o
motivo para dar gelatina às
crianças, Manuela Dias diz que
não vale a pena. A quantidade
encontrada não ultrapassou 2 g
-apesar de não haver consenso, a Pro Teste diz que alguns
estudos sugerem que seriam
necessários 10 g diários para
haver benefícios. "Quem consumir com essa finalidade está
se enganando. Uma pessoa saudável consegue repor o colágeno apenas com uma dieta normal, rica em proteínas."
Para Dias, a gelatina é "um pó
de aditivos, corantes e edulcorantes", e os pais devem preferir alimentos mais saudáveis,
como iogurte e frutas. "Como a
gelatina é docinha e colorida, as
crianças gostam. Mas é um alimento totalmente artificial,
não tem nada de morango, por
exemplo, só o aditivo."
Ela diz que não há problema
na ingestão de gelatina por
adultos -pode ser uma boa opção para quem quer emagrecer,
por exemplo. "As pessoas só
não devem pensar que estão ingerindo algo nutritivo."
Além das questões nutricionais, foram constatados problemas em rótulos, como falta
de informação sobre a presença
de sódio e falta da data de fabricação -o dado não é obrigatório, mas a Pro Teste recomenda. A associação defende que se
crie uma norma para regular
gelatinas que defina parâmetros como quantidade de açúcar e de colágeno.
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