São Paulo, sábado, 03 de abril de 2010

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Aumenta incidência de diabetes juvenil

Número de casos novos subiu quase dez vezes em 20 anos, segundo estudo epidemiológico feito no interior de SP

Evolução anual da doença, ainda sem explicação precisa, é observada também na prática clínica e preocupa os especialistas

João Brito/Folha Imagem
Kawe Valencio, 10, descobriu a doenca aos 6 e se acostumou a ler tabelas de alimento
Marisa Cauduro/Folha Imagem
Felipe Poleti, 17, tambem portador de diabetes, que diz levar vida normal


FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Sabe-se que que o diabetes mais comum, do tipo 2, está em ascensão no mundo, devido a obesidade e maus hábitos. Agora, estudos mostram que também os casos do diabetes mais raro, tipo 1 (não ligado a sobrepeso e sedentarismo), crescem em níveis preocupantes.
Estudo epidemiológico feito por 20 anos no interior de São Paulo concluiu que a incidência da doença aumentou 9,6 vezes no período analisado (1986 a 2006). Os resultados serão publicados no "Journal of Endocrinological Investigation".
O levantamento foi feito só em Bauru, mas endocrinologistas confirmam que o crescimento do chamado diabetes juvenil pode ser observado em todo o país, embora em proporções diferentes.
O diabetes tipo 1, ou juvenil, é uma doença autoimune: as células responsáveis pela produção de insulina no pâncreas sofrem uma autoagressão e deixam de produzir o hormônio. Assim, os níveis de glicose no sangue aumentam e o paciente torna-se dependente do uso de insulina externa para o resto da vida. Em geral, o diagnóstico é feito entre os cinco e os dez anos de idade, daí o nome.
O estudo foi feito pelo endocrinologista Carlos Antonio Negrato, diretor-clínico da Associação dos Diabéticos de Bauru e do departamento de diabetes gestacional da Sociedade Brasileira de Diabetes.
O pesquisador avaliou a incidência anual da doença -que é o surgimento de casos novos, para cada grupo de 100 mil crianças menores de 15 anos.
Para isso, usou informações de pacientes notificados por médicos, por pessoas que procuravam a associação de diabéticos da cidade e por um censo escolar feito anualmente em todas as escolas do município.
No período do estudo, 176 casos foram diagnosticados. A incidência variou de 2,82 casos para cada 100 mil crianças, em 1987, para 27,20 casos para cada 100 mil em 2002, -ano que apresentou a maior incidência.
Segundo Negrato, em 71,43% dos anos avaliados o padrão de incidência foi considerado alto (de 10 a 19,99 casos por 100 mil/ano) e muito alto (igual ou mais de 20 casos por 100 mil).

Possíveis causas
Ainda não há explicação precisa para o aumento no número de casos. Trabalhos científicos feitos no exterior chegam à mesma conclusão, mas não apontam as causas exatas.
"Fatores ambientais, temperaturas mais baixas, algumas viroses, introdução precoce do leite de vaca e seus derivados, associados à predisposição genética, parecem exercer alguma influência", diz Negrato.
Os resultados do levantamento são importantes, por refletirem uma situação que os médicos observam na prática clínica, afirma Augusto Pimazoni Neto, coordenador do grupo de controle do diabetes do Hospital do Rim e Hipertensão da Unifesp. "O trabalho mostra o tamanho do problema."
Essa evolução não está relacionada à subnotificação de casos, afirma o endocrinologista Roberto Betti, do núcleo de diabetes do InCor . "O diabetes tipo 1 é uma doença com sinais clínicos muito claros. O aumento é bem preocupante, porque trata-se de uma doença que deixa o paciente dependente de insulina por toda a vida."


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