São Paulo, terça-feira, 03 de agosto de 2010

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Overdose de radiação intoxica centenas de pacientes nos EUA

Tomografia cerebral feita em vários hospitais causou queda de cabelo

WALT BOGDANICH
DO "NEW YORK TIMES"

Quando os cabelos de Alain Reyes caíram de repente em uma faixa estranha circulando sua cabeça, ele não foi o único a se preocupar com sua saúde.
Seus colegas de trabalho em uma empresa de transportes começaram a evitá-lo e seu chefe o mandou para casa, temendo que ele tivesse uma doença contagiosa.
Foi só mais tarde que Reyes descobriu a causa do problema: recebera uma overdose de radiação durante exame feito em um hospital de Glendale, Califórnia (EUA), depois de sofrer um derrame.
Outras centenas de pacientes que passaram pelo procedimento -uma tomografia computadorizada de perfusão cerebral, que detecta o derrame pelo fluxo sanguíneo- também receberam radiação demais.
As overdoses, que começaram a vir à tona no ano passado, desencadearam uma investigação da FDA (agência reguladora de remédios e alimentos nos EUA).
Após dez meses, a agência ainda não forneceu um relatório final sobre o caso.
Mas uma análise feita pelo "New York Times" constatou que as overdoses de radiação foram mais graves e em número maior do que se sabia até agora.
Os pacientes relataram sintomas muito piores que a queda de cabelos. Segundo especialistas, eles podem, a longo prazo, enfrentar riscos de câncer, problemas nos olhos e danos cerebrais.

IMPERÍCIA
Em alguns casos, os técnicos não sabiam como realizar o exame da maneira certa. Mas entrevistas com diretores hospitalares e uma revisão dos registros públicos levantam dúvidas em relação à responsabilidade dos fabricantes, incluindo a precisão com que projetam seus softwares e equipamentos e o treinamento que oferecem aos técnicos que os usam.
O "NYT" constatou que as maiores overdoses ocorreram no Hospital de Huntsville, no Alabama: até 13 vezes a quantidade de radiação normalmente usada.
De acordo com a fabricante dos aparelhos, GE Healthcare, os diretores do hospital disseram que usaram altos níveis de radiação para obter imagens mais claras.
Especialistas dizem que isso não se justifica.
Mesmo quando é feita da forma certa, uma tomografia computadorizada de perfusão cerebral envolve uma dose grande radiação, equivalente a mais ou menos 200 radiografias cranianas. Mas não existem critérios rígidos para determinar quanta radiação é demais.


Tradução de CLARA ALLAIN


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