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Alcoólatras têm falhas de memória, mas não admitem
Característica de superestimar a própria capacidade pode atrapalhar o tratamento, dizem especialistas
A negação de problemas já é reflexo de uma alteração psicológica frequente, associada à dependência
GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
Alcoólatras têm deficits de
memória e superestimam a
própria habilidade de guardar informações. É o que
mostra pesquisa a ser publicada no periódico "Alcoholism: Clinical & Experimental
Research", em novembro.
O estudo, conduzido pela
Universidade de Caen Basse-Normandie, França, comparou a capacidade de memorização de 28 dependentes de
álcool com a de 28 abstêmios.
Todos precisavam decorar
20 associações de palavras e
rememorá-las após 20 minutos. Os alcoólatras sempre falhavam em recuperar as associações, mesmo tendo respondido antes que eram plenamente capazes disso.
Os autores concluíram que
os dependentes não tinham
consciência de seus problemas de memorização e superestimavam as próprias capacidades mentais.
NEGAÇÃO
Segundo o psiquiatra Arthur Guerra, presidente do
Centro de Informações sobre
Saúde e Álcool, os resultados
do estudo reforçam comportamentos que são frequentes
entre alcoólatras.
Esses dependentes sofrem
alterações psicológicas importantes, daí a negação do
problema e a tendência de
acreditar que podem largar o
vício quando bem entenderem, conforme Guerra.
Essa superestima do alcoólatra pode ser desastrosa
para o tratamento, segundo
Sonia Brucki, neurologista
do Hospital das Clínicas.
"Ele acha que está muito
melhor do que está, não percebe o deficit e continua bebendo, achando que não precisa de tratamento", diz.
RITMO BIOLÓGICO
Outra pesquisa, que será
publicada na mesma edição
do periódico, encontrou uma
associação entre o alcoolismo e alterações genéticas no
ciclo circadiano.
O ciclo circadiano é responsável por regular funções
como temperatura corporal,
secreção hormonal e alternância entre sono e vigília.
A equipe da Universidade
Médica de Taipé, Taiwan,
analisou o sangue de 22 alcoólatras do sexo masculino
e compararam com amostras
de 12 pessoas saudáveis.
No caso dos dependentes,
havia um baixo índice de
proteínas que regulam esse
ciclo, o que afetaria o humor
e funções fisiológicas.
Para o psiquiatra André
Malbergier, do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das
Clínicas, o estudo de Taiwan
lança um alerta importante.
"Se o alcoólatra não consegue dormir bem, por exemplo, ele recorre mais ainda ao
álcool. Da mesma forma, como o ritmo circadiano interfere no humor, o dependente
fica mais vulnerável à depressão e outras doenças psiquiátricas que podem fazer
com que ele continue bebendo", afirma.
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