|
Próximo Texto | Índice
Um em cada oito derrames apresenta sinal de alerta
Estudo canadense mostra que muitos AVCs isquêmicos poderiam ser evitados
Pesquisa acompanhou mais de 16 mil pacientes durante quatro anos; acidentes isquêmicos representam 80% do total de casos
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um em cada oito AVCs (acidentes vasculares cerebrais) do
tipo isquêmico (em que há obstrução dos vasos) é precedido
por uma espécie de alerta, chamado de acidente isquêmico
transitório. Essa é a conclusão
de uma pesquisa canadense da
Universidade de Western Ontario, publicada na última edição do periódico "Neurology".
Segundo os autores do estudo, o conhecimento desses sinais pode ajudar a evitar muitos derrames -com uso de remédios ou com cirurgia.
O acidente vascular isquêmico é o tipo mais comum de derrame (80% dos casos). Os demais são do tipo hemorrágico
(em que o vaso se rompe e que
não há sinais prévios).
"A novidade do estudo é
quantificar os pacientes que
apresentam esses sinais", avalia o neurologista Eduardo Mutarelli, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Segundo ele, os especialistas
sabem que vários pacientes
têm sintomas anteriores ao
AVC. "Tanto que, nos Estados
Unidos e em países da Europa,
esse ataque isquêmico transitório é considerado urgência
médica", diz ele.
Para chegar aos resultados,
os autores avaliaram todos os
pacientes diagnosticados com
derrame ao longo de quatro
anos em todos os hospitais de
Ontário. Dos mais de 16.400
pacientes monitorados, 2.032
(12,4% da amostra) haviam tido
um acidente isquêmico transitório antes do AVC que os levou
ao atendimento de emergência.
Os ataques transitórios
-também chamados "miniderrames"- foram mais comuns
em idosos e em portadores de
problemas cardiovasculares,
diabetes ou hipertensão.
Sintomas similares
Os sintomas dos acidentes isquêmicos transitórios são similares aos do AVC, mas têm intensidade menor e costumam
durar menos de 24 horas.
O paciente pode apresentar,
principalmente, dormência ou
fraqueza no rosto, no braço ou
na perna (especialmente apenas de um lado do corpo) e dificuldades na fala. A maioria se
resolve em uma ou duas horas e
desaparece espontaneamente.
Os "miniderrames" acontecem quando partes de algum
coágulo (ou trombo), principalmente os localizados na carótida, se soltam e entopem vasos
menores do cérebro.
Nesses casos, os pequenos
pedaços acabam sendo reabsorvidos e as áreas vizinhas dão
conta de irrigar a região afetada. Por isso, os sintomas desaparecem rapidamente e não há
danos permanentes.
No entanto, como continua
presente -e, muitas vezes, aumenta de tamanho-, o coágulo
original pode entupir completamente o vaso sanguíneo dentro de poucos dias ou semanas.
O derrame grave provoca lesões definitivas no cérebro, deixa sequelas físicas e cognitivas,
e pode levar à morte.
Segundo a pesquisa canadense, os pacientes sem o derrame
transitório tiveram mais chance de ter um AVC mais grave e
de morrer no hospital (15,2%
contra 12,7% dos demais).
Também precisaram de mais
serviços de reabilitação.
Desconhecimento
Segundo o neurologista Benito Damasceno, da Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas), os sintomas do ataque isquêmico transitório (como perda de força nos membros e alterações na fala) acabam sendo ignorados.
"As pessoas nem imaginam
que isso pode ser sinal de derrame", diz. Sinais mais preocupantes, como confusão mental,
também podem deixar de ser
associados ao AVC. "Muitas vezes, os próprios médicos não
reconhecem esses sintomas",
diz Mutarelli.
Estudos anteriores sugerem
que mais de 80% dos AVCs que
ocorrem depois de um sinal de
alerta podem ser evitados.
Nesses casos, a pessoa deve
procurar um médico imediatamente para identificar as causas da obstrução e saber onde
ela está localizada. Para evitar o
derrame, são usados anticoagulantes ou pode ser feita uma cirurgia para colocação de stent
(tipo de rede) para desobstruir
o vaso comprometido.
Hemorrágico
Os tipos mais comuns de
AVC hemorrágico, que não costuma dar sinais de alerta, são
relacionados à hipertensão.
Nesses casos, o esforço físico ou
um forte impacto emocional
dispara a pressão arterial, que
leva à ruptura de artérias.
Em apenas 5% dos casos, a
causa é a ruptura de um aneurisma cerebral (dilatação anômala das artérias). Esse tipo é
mais frequente em jovens, entre 30 e 50 anos.
Para evitar os derrames é essencial manter hábitos saudáveis de vida, controlar rigorosamente a pressão arterial, reduzir o estresse e manter as taxas
de colesterol sob controle.
Próximo Texto: Cai número de internações por derrame nos EUA Índice
|