|
Próximo Texto | Índice
Gordura localizada eleva o risco de coágulos nas veias
Massas formadas nos vasos podem se soltar e causar obstrução nos pulmões
Risco é maior mesmo em pessoas com peso normal, diz pesquisa que seguiu 27.178 homens e 29.876 mulheres por uma década
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
O acúmulo de gordura na
barriga ou nos quadris em pessoas de peso normal aumenta o
risco de tromboembolismo venoso (formação de coágulos
nas veias que podem se desprender e chegar até os pulmões). O dado é de um estudo
dinamarquês publicado no periódico "Circulation".
Essa relação foi encontrada
tanto em homens quanto em
mulheres. "Mas, como a variação da circunferência abdominal é maior nos homens e a dos
quadris é maior nas mulheres,
o excesso na barriga dá mais informações sobre o risco em homens e, nos quadris, nas mulheres", disse à Folha a pesquisadora Marianne Severinsen,
uma das autoras do estudo.
"A importância da distribuição da gordura no risco do
tromboembolismo venoso não
havia sido avaliada até aqui",
afirma a pesquisadora.
Para chegarem aos resultados, os cientistas acompanharam 27.178 homens e 29.876
mulheres entre 50 e 64 anos
por dez anos. Eles avaliaram
medidas como peso, índice de
massa corporal e circunferência abdominal e dos quadris.
"Encontramos uma diferença estatisticamente significante entre todas as medidas de
obesidade e a ocorrência de
tromboembolismo venoso sem
causa definida", afirma a pesquisadora Severinsen.
Por isso, os resultados do estudo também reforçam que a
obesidade, independentemente de onde está localizada, aumenta o risco da doença.
Esse resultado se manteve
mesmo após o ajuste de dados
como fumo, prática de atividade física, hipertensão, diabetes,
colesterol e uso de terapia de
reposição hormonal, que poderiam interferir na conclusão.
Para os autores, os resultados devem ajudar os médicos a
melhorar a avaliação de risco.
No entanto, outros estudos
precisam explicar o mecanismo por trás dessa associação.
Síndrome metabólica
"A gordura abdominal está
associada à síndrome metabólica [conjunto de sintomas que
elevam o risco cardíaco] e sabe-se que ela é fator de risco para
trombose", explica o cirurgião
vascular Paulo Kauffman, da
Universidade de São Paulo.
Na síndrome metabólica, há
um aumento da produção de
substâncias inflamatórias que
provocam lesões na parede interna dos vasos. Além de elevar
o risco de doenças arteriais, como aterosclerose, isso também
aumenta o risco de doenças venosas, como a formação de coágulos nas veias profundas.
"Além disso, o obeso caminha mal, o que provoca má circulação", diz o cirurgião vascular Pedro Puech, do Hospital
das Clínicas de São Paulo.
Por isso, os obesos têm mais
chance de sofrer um tromboembolismo venoso mesmo
que não estejam em situações
de risco clássicas, como viagens
longas de avião, cirurgias ou
gestação, por exemplo. "Nesses
pacientes o cuidado deve ser
redobrado", lembra Kauffman.
Coagulação
O tromboembolismo venoso
ocorre quando o sangue coagula dentro das veias. Na maioria
dos casos, isso acontece em vasos profundos das pernas. Sua
maior complicação é a embolia
pulmonar -quando o trombo
se desprende e cai na circulação, podendo causar uma embolia pulmonar, obstrução capaz de levar à morte.
O termo tromboembolismo
venoso envolve tanto a trombose, que é a formação do coágulo, quanto a embolia.
Embora o problema mais temido seja a embolia pulmonar,
as complicações tardias também são perigosas.
O coágulo formado na veia leva a um processo inflamatório
que causa lesões nas válvulas
que impedem que o sangue volte para os pés. A circulação fica
comprometida e a perna incha,
fica mais escura e podem surgir
úlceras de difícil cicatrização.
Próximo Texto: Frase Índice
|