São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2008

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Novo método para tratar vitiligo raspa as manchas

Tratamento foi criado por dermatologista da Faculdade de Medicina do ABC

Em metade dos pacientes, área tratada voltou a ter pigmentação; resultado foi melhor em quem tinha a doença há menos de 15 anos

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um novo tratamento para vitiligo foi desenvolvido na Faculdade de Medicina do ABC. No método, a região despigmentada é raspada -após três sessões de curetagem, a pele volta a escurecer. A técnica foi avaliada por Jefferson Alfredo de Barros, professor de dermatologista da instituição, em 16 pessoas, durante seu mestrado. Ele já está adotando o método com seus pacientes.
Atualmente, a doença é tratada principalmente por meio de remédios, fototerapia e cirurgia. No procedimento cirúrgico, a região afetada é raspada e coberta com um enxerto de pele normal, em um tipo de "transplante". A hipótese de Barros era a de que só a curetagem já seria suficiente. Isso porque, na regeneração da lesão, haveria uma ativação dos melanócitos -células responsáveis pela liberação da melanina, que dá a coloração da pele.
No estudo, ele constatou que, em metade dos pacientes, a região tratada voltou a ter pigmentação após três sessões de curetagem. Em outros casos, embora não houvesse uma mudança visível na pele, biópsias mostraram que o número de melanócitos aumentou. Segundo Barros, com o auxílio de outros métodos, como fototerapia ou remédios, essas novas células poderiam ficar mais ativas na produção de melanina.
Para Samuel Henrique Mandelbaum, membro do conselho decisório da Sociedade Brasileira de Dermatologia, regional SP, 50% é um bom índice de sucesso, já que os outros tratamentos para o vitiligo obtêm, em média, 30% de resposta.

Doença estabilizada
Tanto a cirurgia como a curetagem só são indicadas para quem tem a doença estabilizada. No estudo, Barros também observou que os melhores resultados foram apresentados por quem tinha a doença há menos de 15 anos.
Segundo Cláudia Magro Issa, professora de dermatologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, nos primeiros anos da doença, há uma diminuição na produção da melanina, mas os melanócitos continuam presentes. "Após dez anos, a quantidade de melanócitos na área diminui."
Para ela, o novo método é interessante por ser fácil, barato e acessível a qualquer dermatologista. "A amostra de pacientes foi pequena e incluiu tanto pessoas morenas como outras mais claras. Com certeza, o método não traz malefícios. Para saber a proporção de benefício, seria necessário estudar mais."
Issa ressalta que não há cura para a doença, já que ninguém sabe o que a causa. As explicações mais aceitas para seu surgimento são problemas auto-imunes, neurais ou de autocitotoxidade -nesse caso, haveria uma falha do organismo em "limpar" os antioxidantes decorrentes da produção de melanina, e essas substâncias acabariam atacando os melanócitos. Não se sabe por que a curetagem estimula os melanócitos.

Impacto emocional
Segundo médicos, o vitiligo atinge de 1% a 2% da população. Embora não cause danos à saúde, a doença tem um forte impacto emocional nos pacientes.
A estudante Camila de Jesus, 22, chegou a fazer terapia quando as primeiras manchas surgiram, há quatro anos. "Às vezes, na praia, alguém olha. Mas eu não ligo mais. Vi que precisava ter autoconfiança."
Paciente de Barros, ela fez a curetagem na barriga -o método foi associado a remédios e sessões de fototerapia. Segundo ela, após o tratamento, apareceram uma "ilhotas" de pigmentação na barriga. "Não doeu, foi só incômodo", diz.


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