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Governo defende reprodução planejada de soropositivos
Documento estimula sexo desprotegido no dia fértil da mulher, para diminuir risco
Segundo informações do Ministério da Saúde, quase 3.000 mulheres com o vírus da Aids, em tratamento, engravidaram em 2008
FERNANDA BASSETTE
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério da Saúde elabora um documento em que estimula soropositivos interessados em ter filhos a fazer sexo
desprotegido, em datas e condições clínicas específicas.
O documento inclui estratégias de redução de risco de
transmissão do vírus, em um
contexto onde a maioria dessas
pessoas não tem acesso a tratamentos de reprodução assistida para tentar engravidar.
"Em 2008, quase 3.000 mulheres soropositivas engravidaram e a maioria estava em tratamento com antirretroviral.
Elas poderiam ter sido orientadas a se expor apenas no período fértil", diz Andrea da Silveira
Rossi, consultora técnica do
Departamento de DST/Aids e
Hepatites Virais do ministério.
Segundo Rossi, se o casal planejar a gravidez na melhor fase
clínica do tratamento da Aids,
os riscos de transmissão do vírus são muito menores.
Isso inclui estar com a carga
viral indetectável e o CD4 (células de defesa) elevado, não ter
outras doenças crônicas associadas, não ter infecções do trato genital (como outras doenças sexualmente transmissíveis) e planejar a relação para a
data exata do período fértil.
A estratégia não elimina o
risco de transmissão do vírus,
mas o reduz muito, segundo
Rossi.
Após a relação desprotegida,
o documento recomenda que o
parceiro sem HIV tome os antirretrovirais como prevenção.
O protocolo dirá também
que, se a mulher for soropositiva, ela deverá continuar tomando o antirretroviral durante a gestação, e o bebê também
tomará a droga no primeiro
mês de vida. A criança não poderá ser amamentada.
O número de grávidas com
HIV é cada vez maior, diz Rossi:
"Esse assunto é pouco discutido. Temos que orientar os casais que não têm acesso às técnicas de reprodução assistida
sobre formas de engravidar".
"Em termos de porcentagem
de chance de contaminação
[cerca de 2%], pode ser aceitável a gravidez natural. Mas se
considerarmos a doença, acho
que não", diz Eduardo Pandolfi
Passos, vice-presidente da Sociedade Latino-Americana de
Reprodução Assistida.
"Relações desprotegidas são
contraindicadas. Em alguns casos, o risco de contaminação
chega a 4%", diz Waldemar de
Carvalho, coordenador o Centro de Reprodução Assistida
em Situações Especiais da Faculdade de Medicina do ABC.
Já o infectologista Caio Rosenthal, do Emílio Ribas, diz:
"Estudos sugerem que a contaminação, nos casos em que a
carga viral é indetectável, é menor do que se pensava. Com a
orientação certa e conhecendo
os riscos, [a gravidez] é questão
da autonomia do casal".
OMS
A OMS aborda o tema desde
2006. O documento, porém, cita a redução de riscos (sexo sem
camisinha) para casais em que
ambos têm o vírus. No caso de a
mulher ser HIV positivo e o homem não, a OMS recomenda a
autoinseminação. No caso de o
homem ter a doença, a OMS sugere reprodução assistida.
"A maioria dos pacientes não
pode pagar por reprodução assistida. Com certeza vamos receber críticas, mas as orientações são individualizadas. Falamos em redução de risco, não
em eliminação", diz Rossi.
Para ela, as políticas de redução de risco estão desatualizadas: "O foco dos serviços que
tratam soropositivos ainda é a
prevenção e o uso de preservativos. Mas, essas pessoas estão
vivendo mais e o desejo de reprodução está mais intenso".
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