São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2010

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Há sexo após o infarto

Cardiologistas não falam sobre vida sexual com seus pacientes infartados ; para psiquiatra, é preciso até orientar sobre as posições mais confortáveis

FERNANDA BASSETTE
DE SÃO PAULO

Falar sobre sexo com pacientes que sofreram um infarto ainda é tabu entre os cardiologistas. Por isso, mesmo um ano após infartar, muitos doentes deixam de fazer sexo ou reduzem a atividade sexual.
A maioria dos médicos não toca no assunto e não dá orientações sobre quando e como esses pacientes podem retomar as relações.
A constatação é de um estudo apresentado pela American Heart Association, nos Estados Unidos, mas também pode ser observada nos consultórios brasileiros.
Em um levantamento informal feito com residentes do Instituto Dante Pazzanese, o cardiologista Marcelo Ferraz Sampaio descobriu que 90% deles não falavam de sexo nas consultas.
No estudo americano, os pesquisadores acompanharam 1.760 pacientes infartados (1.184 homens e 576 mulheres) um mês e um ano depois da ocorrência.
Mais da metade dos homens e a maioria das mulheres disseram não ter recebido instruções sobre quando recomeçar a atividade sexual.
Além disso, menos de 40% dos homens e menos de 20% das mulheres falaram sobre sexo com seus médicos no ano seguinte ao infarto.
A maioria dos homens, porém, retomou a vida sexual mesmo sem orientação; entre as mulheres, menos da metade fez o mesmo.
É o caso do engenheiro Eduardo, 52, que infartou aos 42 anos e foi operado. Poucas semanas após a alta, quis fazer sexo e não perguntou ao médico se havia restrições.
"Ele nunca tocou no assunto comigo, por isso também nunca perguntei. Depois da cirurgia, achei que minha libido melhorou", diz.
Segundo Marcelo Sampaio, muitos médicos se sentem constrangidos em falar sobre o assunto na consulta, principalmente se o paciente estiver acompanhado. "É muito difícil que o doente pergunte espontaneamente. E os médicos também não questionam", afirma.
O cardiologista Otávio Rizzi Coelho, professor da Unicamp, diz que o sexo deve ser tema das consultas por razões médicas. "Disfunção erétil e diabetes aumentam o risco de infarto. E o infarto, em geral, acontece em pessoas mais velhas. Independentemente do caso, o assunto tem que ser tratado."
Para a psiquiatra Carmita Abdo, do Programa de Estudos em Sexualidade da USP, os pacientes precisam desmistificar o tema.
De acordo com ela, é papel do médico dizer se o sexo está liberado ou não, inclusive indicando posições mais confortáveis. "Sexo é qualidade de vida."


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