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Há sexo após o infarto
Cardiologistas não falam sobre vida sexual com seus pacientes infartados ; para psiquiatra, é preciso até orientar sobre as posições mais confortáveis
FERNANDA BASSETTE
DE SÃO PAULO
Falar sobre sexo com pacientes que sofreram um infarto ainda é tabu entre os
cardiologistas. Por isso, mesmo um ano após infartar,
muitos doentes deixam de fazer sexo ou reduzem a atividade sexual.
A maioria dos médicos não
toca no assunto e não dá
orientações sobre quando e
como esses pacientes podem
retomar as relações.
A constatação é de um estudo apresentado pela American Heart Association, nos
Estados Unidos, mas também pode ser observada nos
consultórios brasileiros.
Em um levantamento informal feito com residentes
do Instituto Dante Pazzanese, o cardiologista Marcelo
Ferraz Sampaio descobriu
que 90% deles não falavam
de sexo nas consultas.
No estudo americano, os
pesquisadores acompanharam 1.760 pacientes infartados (1.184 homens e 576 mulheres) um mês e um ano depois da ocorrência.
Mais da metade dos homens e a maioria das mulheres disseram não ter recebido
instruções sobre quando recomeçar a atividade sexual.
Além disso, menos de 40%
dos homens e menos de 20%
das mulheres falaram sobre
sexo com seus médicos no
ano seguinte ao infarto.
A maioria dos homens, porém, retomou a vida sexual
mesmo sem orientação; entre as mulheres, menos da
metade fez o mesmo.
É o caso do engenheiro
Eduardo, 52, que infartou aos
42 anos e foi operado. Poucas
semanas após a alta, quis fazer sexo e não perguntou ao
médico se havia restrições.
"Ele nunca tocou no assunto comigo, por isso também nunca perguntei. Depois da cirurgia, achei que
minha libido melhorou", diz.
Segundo Marcelo Sampaio, muitos médicos se sentem constrangidos em falar
sobre o assunto na consulta,
principalmente se o paciente
estiver acompanhado. "É
muito difícil que o doente
pergunte espontaneamente.
E os médicos também não
questionam", afirma.
O cardiologista Otávio Rizzi Coelho, professor da Unicamp, diz que o sexo deve ser
tema das consultas por razões médicas. "Disfunção
erétil e diabetes aumentam o
risco de infarto. E o infarto,
em geral, acontece em pessoas mais velhas. Independentemente do caso, o assunto tem que ser tratado."
Para a psiquiatra Carmita
Abdo, do Programa de Estudos em Sexualidade da USP,
os pacientes precisam desmistificar o tema.
De acordo com ela, é papel
do médico dizer se o sexo está liberado ou não, inclusive
indicando posições mais
confortáveis. "Sexo é qualidade de vida."
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