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Medicamento para ovulação é testado contra andropausa
Remédio feminino já é usado para estimular produção de testosterona em casos de "menopausa masculina"
Tratamento pode ser alternativa mais segura à reposição hormonal, para homens com doenças cardíacas
FERNANDA BASSETTE
DE SÃO PAULO
Médicos urologistas estão
testando um remédio feminino, usado para induzir a ovulação, no tratamento da andropausa, a chamada menopausa masculina.
A andropausa é caracterizado pela queda drástica dos
níveis de testosterona nos
homens com mais de 40
anos, o que provoca, entre
outros efeitos, queda na libido e dificuldades de ereção.
O tratamento padrão é feito com a reposição hormonal. Mas, segundo o urologista Celso Gromatzky, há dois
anos estudos têm demonstrado benefícios no uso do
medicamento feminino.
"É uma boa opção de tratamento, especialmente para
homens com histórico de
doença cardíaca", diz.
Leia abaixo trechos da entrevista que Gromatzky concedeu à Folha
Folha - Há uma tendência de
prescrever reposição hormonal para homens acima de 40
anos indiscriminadamente?
Celso Gromatzky - Há uma
tendência forte de aumentar
a indicação de reposição para homens com queda da testosterona. Não porque a
doença tenha aumentado,
mas porque hoje se conhece
melhor o problema.
O que é andropausa?
Gromatzky - É uma deficiência hormonal que atinge
cerca de 15% dos homens a
partir dos 40 anos. A testosterona vai caindo lentamente
com a idade, mas só 15% deles vão obter valores abaixo
do normal. Ou seja, 85% dos
homens terão níveis absolutamente normais durante a
vida toda. Isso diferencia de
forma muito clara a condição
do homem e da mulher.
Então a andropausa é considerada uma doença?
Gromatzky - Sim. A menopausa ocorre naturalmente
em todas as mulheres. Mas a
falta de hormônio não é parte
do processo natural de envelhecimento masculino. Não
sabemos por que esses 15%
têm o problema.
E quais são os principais sintomas?
Gromatzky - Cai a libido, a
qualidade da ereção piora e
pode haver um prejuízo na
intensidade do orgasmo.
Quais são os outros impactos
na saúde?
Gromatzky - A falta de testosterona tende a causar pele
seca e unhas quebradiças.
Também causa a perda da
massa muscular e pode favorecer o acúmulo de gordura
na região abdominal. Já no
sistema nervoso central, diminui memória, concentração, provoca perda da motivação e uma tendência à depressão. Aumenta o risco de
osteoporose e fraturas.
Esses sintomas não se confundem com depressão?
Gromatzky - Sim. Para fazer o diagnóstico, o homem
precisa ter o hormônio abaixo do nível normal associado
a três ou mais sintomas.
Pode acontecer de o hormônio estar baixo e o homem
não ter sintomas?
Gromatzky - Pode, e isso
não caracteriza a andropausa. E, se ele tem sintomas,
mas a dosagem do hormônio
está normal, também não.
O diagnóstico é feito com um
exame de sangue?
Gromatzky - Sim. A testosterona é uma molécula que
percorre o sangue em três
formas: uma delas é a testosterona livre, a fração que
atua nos órgãos alvo.
A outra é ligada à globulina SHBG, e a terceira, à albumina. O exame de sangue dosa a testosterona total, que é
a soma dessas três formas,
mas existe uma fórmula para
calcular só a testosterona livre -que causa sintomas.
A reposição hormonal, então,
é indicada apenas para esses
homens?
Gromatzky - Exatamente.
Expor um homem com os níveis normais à aplicação de
testosterona sintética traz
consequências. Uma delas é
a diminuição da produção de
espermatozoides. A outra é o
aumento da viscosidade do
sangue, que pode causar derrame ou infarto.
Existe um controle ou ainda
há homens que fazem reposição sem necessidade?
Gromatzky - O uso indiscriminado de testosterona é
um erro médico. Tanto que
ela é um medicamento de
controle especial.
Existe alguma novidade no
tratamento?
Gromatzky - O tratamento
é feito com hormônios sintéticos, aplicados por injeção
intramuscular. Mas, nos últimos dois anos, alguns trabalhos demonstraram que o citrato de clomifênio, indicado
para induzir a ovulação em
mulheres, estimularia a fabricação de testosterona.
Essa medicação é usada aqui
com essa finalidade?
Gromatzky - Sim, ainda na
forma "off-label" [quando o
médico recomenda um remédio para um uso não indicado na bula]. As experiências
são positivas. É um caminho
para pacientes que não podem receber hormônio.
Quem são esses pacientes?
Gromatzky - Aqueles que
já sofreram um derrame ou
infarto. Eles não podem correr o risco de aumentar a viscosidade do sangue. Mas deixo claro que é uma alternativa não consagrada.
A reposição é por tempo determinado?
Gromatzky - Não. Uma vez
estabelecido o diagnóstico, é
pouco provável que esse homem volte a fabricar testosterona naturalmente. Teoricamente, ele terá que fazer a reposição pelo resto da vida.
Por isso é preciso muito critério para propor o tratamento.
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