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Quem quer se matar dá sinais, diz jornalista
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Depois que seu pai se matou com um tiro, em 2005, a
jornalista Paula Fontenelle,
42, escreveu o livro "Suicídio: o Futuro Interrompido"
(Geração Editorial), finalista
do prêmio Jabuti 2009. Leia
trechos de sua entrevista.
FOLHA - O que leva uma pessoa
a cometer um ato tão drástico?
PAULA FONTENELLE - Mais de
90% dos casos de suicídio
são associados a um transtorno mental não tratado
adequadamente, como depressão ou bipolaridade. O
uso de drogas também é comum.
FOLHA - Muitas vezes a pessoa
tem uma melhora no humor antes de se matar. Por quê?
FONTENELLE - O deprimido
não tem energia nem para se
matar. Depois que ele começa a tomar remédios, recobra
a energia para isso. O outro
motivo é que, quando alguém decide se suicidar, fica
aliviado. Muitas vezes ele
reencontra antigos amigos,
quer se despedir. Outros sinais são desfazer-se de coisas materiais ou pagar contas para não deixar dívidas.
FOLHA - A pessoa "avisa" que
vai se matar?
FONTENELLE - Ela pode até
não dizer "vou me matar",
mas diz coisas como "a vida
não tem mais sentido", "não
consigo entender por que estar vivo". São sinais.
FOLHA - O que fazer ao perceber
que uma pessoa quer se suicidar?
FONTENELLE - Perguntar diretamente se ela está pensando em se matar e levá-la imediatamente a um psiquiatra,
que é a única pessoa que poderá ajudar.
FOLHA - Quem se mata mais, o
homem ou a mulher?
FONTENELLE - O homem comete três vezes mais suicídio, mas mulheres tentam de
três a quatro vezes mais. A
diferença é que elas tomam
mais remédios, menos letais,
e eles dão um tiro na cabeça
e raramente escapam.
FOLHA - O luto vivido pela família de quem se mata é diferente?
FONTENELLE - Sim. É um luto
silencioso, o que dói. Quando
alguém morre de infarto, todo mundo fala sobre como
ele morreu. No caso do suicídio, as pessoas mudam de assunto, é um tabu.
FOLHA - É comum os familiares
sentirem culpa?
FONTENELLE - É quase impossível não sentir. E as pessoas
também os culpam, pensam:
"Como ele não viu?"
FOLHA - A mídia é cautelosa em
relação ao tema porque é dito
que o cobrir pode incentivar outras pessoas a se matarem. Ele
deve ser abordado?
FONTENELLE - Sim, desde que
com responsabilidade. O que
dissemina o suicídio é a cobertura personalista, romantizada, em que só se entrevistam os parentes. Devem ser ouvidos analistas
que falem de prevenção e
nunca se deve entrar em detalhes sobre os métodos, por
exemplo. Mas, acima de tudo, a mídia não deve se calar.
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