São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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Nova técnica usa sangue de 2 cordões para tratar adultos

Transplante duplo de células-tronco do cordão umbilical é alternativa para quem não consegue um doador de medula

Antes indicada apenas para crianças, cirurgia foi feita seis vezes por dois hospitais brasileiros e cerca de 500 por centros de outros países

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil concluiu no mês passado o sexto transplante duplo de células-tronco de cordão umbilical em adultos -técnica recente e que está sendo usada como alternativa para casos de pacientes que precisam de um transplante de medula óssea, mas não encontraram doador compatível na família nem nos bancos de doadores.
Dos seis casos brasileiros, três foram realizados pelo hospital Albert Einstein, em São Paulo, e três pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer), no Rio. Segundo especialistas, os resultados obtidos são promissores e apontam para uma nova perspectiva de tratamento.
De acordo com o hematologista Vanderson Rocha, diretor-científico do Projeto Eurocord, até pouco tempo atrás o transplante de células-tronco do cordão era feito apenas em crianças ou adultos com menos de 40 quilos, por causa da quantidade limitada de células.
Diante da falta de alternativa para pacientes graves que não encontravam doador, médicos americanos fizeram o primeiro transplante usando duas bolsas de sangue, de doadores diferentes, para aumentar o volume.
"Deu tão certo que já foram feitos cerca de 500 em todo o mundo. Os resultados mostram que é uma técnica que veio para ficar", disse Rocha, que trabalha no hospital Saint Louis, na França, e já fez 45 transplantes duplos.

Vantagens e desvantagens
O primeiro ponto positivo do transplante duplo é a maior chance de o paciente encontrar doador, pois o sangue do cordão umbilical não precisa ser 100% compatível com o dele. "Como são células jovens, a compatibilidade entre doador e receptor pode ser de 65%", diz o hematologista Nelson Hamerschlak, do Albert Einstein.
Além disso, as células do cordão provocam menos reação no transplantado. Outro ponto a favor é que o material está disponível de imediato.
A principal desvantagem está no tempo que a medula demora para voltar a produzir as defesas, o que deixa o paciente desprotegido. "No transplante comum, demora de 14 a 20 dias. No duplo cordão, de 24 a 30 dias", diz Hamerschlak.
Luiz Fernando Bouzas, diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea do Inca e coordenador do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea e da BrasilCord, considera os resultados positivos, mas pede cautela.
"É uma situação nova no mundo inteiro. Estamos acompanhando as perspectivas, mas ainda de forma experimental. Ainda vamos esperar isso amadurecer antes de que possa virar rotina", diz.
Segundo Bouzas, 50% das pessoas que esperam na fila por um doador de medula são crianças, o que não justificaria tornar o procedimento rotina em adultos. "Além disso, não podemos esquecer que o transplante duplo tem custo duplo. Importar uma única bolsa de sangue de cordão custa, em média, US$ 25 mil dólares", disse.
Hamerschlak vê os avanços de forma positiva e diz esperar que o Brasil não use a técnica só como "transplante de exceção". "O duplo transplante evita que uma pessoa morra por falta de doador compatível", afirma.


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