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Nova técnica usa sangue de 2 cordões para tratar adultos
Transplante duplo de células-tronco do cordão umbilical é alternativa para quem não consegue um doador de medula
Antes indicada apenas para crianças, cirurgia foi feita seis vezes por dois hospitais brasileiros e cerca de 500 por centros de outros países
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil concluiu no mês passado o sexto transplante duplo
de células-tronco de cordão
umbilical em adultos -técnica
recente e que está sendo usada
como alternativa para casos de
pacientes que precisam de um
transplante de medula óssea,
mas não encontraram doador
compatível na família nem nos
bancos de doadores.
Dos seis casos brasileiros,
três foram realizados pelo hospital Albert Einstein, em São
Paulo, e três pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer), no Rio.
Segundo especialistas, os resultados obtidos são promissores
e apontam para uma nova perspectiva de tratamento.
De acordo com o hematologista Vanderson Rocha, diretor-científico do Projeto Eurocord, até pouco tempo atrás o
transplante de células-tronco
do cordão era feito apenas em
crianças ou adultos com menos
de 40 quilos, por causa da quantidade limitada de células.
Diante da falta de alternativa
para pacientes graves que não
encontravam doador, médicos
americanos fizeram o primeiro
transplante usando duas bolsas
de sangue, de doadores diferentes, para aumentar o volume.
"Deu tão certo que já foram
feitos cerca de 500 em todo o
mundo. Os resultados mostram que é uma técnica que
veio para ficar", disse Rocha,
que trabalha no hospital Saint
Louis, na França, e já fez 45
transplantes duplos.
Vantagens e desvantagens
O primeiro ponto positivo do
transplante duplo é a maior
chance de o paciente encontrar
doador, pois o sangue do cordão umbilical não precisa ser
100% compatível com o dele.
"Como são células jovens, a
compatibilidade entre doador e
receptor pode ser de 65%", diz
o hematologista Nelson Hamerschlak, do Albert Einstein.
Além disso, as células do cordão provocam menos reação no
transplantado. Outro ponto a
favor é que o material está disponível de imediato.
A principal desvantagem está
no tempo que a medula demora
para voltar a produzir as defesas, o que deixa o paciente desprotegido. "No transplante comum, demora de 14 a 20 dias.
No duplo cordão, de 24 a 30
dias", diz Hamerschlak.
Luiz Fernando Bouzas, diretor do Centro de Transplante
de Medula Óssea do Inca e
coordenador do Registro Nacional de Doadores de Medula
Óssea e da BrasilCord, considera os resultados positivos, mas
pede cautela.
"É uma situação nova no
mundo inteiro. Estamos acompanhando as perspectivas, mas
ainda de forma experimental.
Ainda vamos esperar isso amadurecer antes de que possa virar rotina", diz.
Segundo Bouzas, 50% das
pessoas que esperam na fila por
um doador de medula são
crianças, o que não justificaria
tornar o procedimento rotina
em adultos. "Além disso, não
podemos esquecer que o transplante duplo tem custo duplo.
Importar uma única bolsa de
sangue de cordão custa, em média, US$ 25 mil dólares", disse.
Hamerschlak vê os avanços
de forma positiva e diz esperar
que o Brasil não use a técnica só
como "transplante de exceção".
"O duplo transplante evita que
uma pessoa morra por falta de
doador compatível", afirma.
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