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Fumo passivo pode trazer dificuldades para engravidar
Mulheres expostas ao tabagismo passivo na infância ou na idade adulta têm mais risco de sofrer abortos espontâneos
Pesquisa concluiu que 40%
das mulheres expostas à
fumaça por 6 horas ou mais
por dia tiveram dificuldade de engravidar ou abortaram
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mulheres expostas ao fumo
passivo na infância ou na vida
adulta têm mais chances de enfrentar dificuldades para engravidar ou de sofrer abortos
espontâneos, revela um estudo
da Universidade de Rochester
(EUA), publicado na revista
"Tobacco Control". É a maior
pesquisa já feita a mostrar essa
associação.
Na análise, que envolveu
4.800 mulheres não-fumantes
atendidas no Roswell Park
Cancer Institute, os pesquisadores constataram que 40% daquelas que eram expostas à fumaça do cigarro por seis horas
ou mais por dia tiveram dificuldade para engravidar ou sofreram abortos espontâneos.
Mulheres expostas ao cigarro
na infância tiveram 1,27 vez
mais chances de ter problemas
com a gravidez. Já entre as que
conviveram com fumantes na
vida adulta o risco foi 1,3 vez
maior. A comparação em ambos os casos foi feita em relação
a mulheres que viveram em
ambientes livres de cigarro.
No estudo, 4 em 5 mulheres
disseram terem sido expostas à
fumaça em algum momento da
vida, com metade delas tendo
crescido em uma casa com pais
fumantes. Em relação aos abortos, 12,4% relataram múltiplos
abortos espontâneos.
Segundo Luke Peppone, um
dos autores do estudo, o cigarro
contém toxinas que, supostamente, podem danificar o material genético das células reprodutivas- inibindo a fertilização- e aumentar o risco de
aborto espontâneo por influir
na produção de hormônios necessários ao desenvolvimento
da gravidez.
No entanto, Peppone alerta
que não há confirmação científica de como o fumo passivo
afeta o organismo da mulher.
"É preciso cautela na interpretação dos resultados porque,
até a presente data, não conseguimos concluir a causalidade
[a relação causa e efeito do fumo passivo e fertilidade]."
Para o ginecologista Rui Ferriani, professor da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto e vice-presidente
da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo), a pesquisa
americana comprova o que os
médicos já suspeitavam. "Está
muito bem documentado que o
fumo prejudica a qualidade dos
óvulos e dos espermatozoides.
A gente imaginava que o fumo
passivo também pudesse ser
prejudicial à fertilidade. Agora,
está comprovado."
Segundo ele, os ginecologistas devem informar às pacientes que desejam engravidar sobre os riscos do cigarro -pode
levar à menopausa precoce, por
exemplo- e do uso de drogas,
mas ele acredita que uma campanha de saúde pública sobre
os fatores que podem levar à infertilidade seria mais eficaz.
"Tem mais impacto do que falar individualmente", afirma.
O ginecologista Renato Kalil,
do Hospital e Maternidade São
Luiz, também avalia que é difícil convencer o casal, especialmente o homem, a deixar de fumar sob o argumento de que o
vício pode dificultar a gravidez.
"Na hora, ele cita vários amigos
fumantes que engravidaram
suas mulheres sem problema.
Fica difícil argumentar."
Segundo Kalil, até por falta
de mais evidências científicas
sobre os males do fumo passivo
na reprodução, não é prática
dos médicos alertar os casais
nesse sentido.
O urologista Edson Borges,
especialista em reprodução humana, concorda. "Eu não pergunto à mulher [que está tentando engravidar] se ela frequenta ambientes com cigarro.
É muito difícil estabelecer essa
relação [fumo passivo e dificuldade de gravidez]. Precisaria
saber, por exemplo, a que quantidades de substâncias tóxicas
ela está exposta." Borges argumenta que há muitas variáveis
relacionadas à infertilidade e
aos abortos recorrentes e acredita que faltam mais evidências
científicas sobre os efeitos do
fumo passivo na fertilidade.
Colaboraram RACHEL BOTELHO, da Reportagem Local, e DESIREÊ ANTÔNIO
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