São Paulo, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estudo não mostra relação entre gordura saturada e risco cardíaco

Metanálise considerou dados de 21 trabalhos envolvendo 348 mil pessoas

JULLIANE SILVEIRA
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma metanálise de 21 estudos, que incluíram ao todo 348 mil adultos, não encontrou uma relação direta entre consumo de gordura saturada e risco de doenças cardiovasculares, como infarto e derrame. O trabalho foi publicado no periódico "American Journal of Clinical Nutrition".
Os participantes foram questionados sobre seus hábitos alimentares e acompanhados por um período de cinco a 23 anos -dependendo da pesquisa. Nesse intervalo, 11 mil sofreram um evento cardiovascular.
Os resultados não apontaram diferença no risco de doenças cardiovasculares entre as pessoas com o menor e o maior consumo de gordura saturada.
A análise incluiu estudos epidemiológicos, nos quais os participantes foram questionados sobre sua dieta e acompanhados para verificação de problemas cardiovasculares. O método tem algumas limitações, como o fato de depender da lembrança dos participantes sobre os seus hábitos alimentares.
Outra limitação é a heterogeneidade dos participantes dos estudos, alega o cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor do setor de lípides do InCor (Instituto do Coração), em SP.
Para o cardiologista e nutrólogo Daniel Magnoni, do Hospital do Coração, a gordura saturada é somente um fator de risco entre vários. "Um só fator não representa mais risco", diz.
Na mesma linha, os autores da pesquisa também dizem que o peso do estilo de vida e da qualidade da alimentação é maior do que o consumo isolado de gorduras saturadas.
"A substituição da gordura saturada por mono ou poli-insaturada reduz o colesterol "ruim". No entanto, se essa gordura for substituída por consumo excessivo de carboidratos, especialmente dos refinados, poderá exacerbar dislipidemias aterogênicas [que causam placas nas artérias], com aumento de triglicerídeos e de LDL", acrescentam os pesquisadores.
Segundo Santos, há diversos estudos que demonstram que o excesso de gordura saturada eleva o colesterol sanguíneo e outros que mostram que o colesterol aumentado está relacionado a maior risco de problemas cardiovasculares.
"O estudo pode até colocar em dúvida se o consumo aumentaria o risco. Mas uma das maiores verdades na cardiologia é a relação entre o colesterol e o risco de desfechos cardiovasculares. O trabalho não muda as recomendações de ingerir essa gordura com parcimônia", afirma Santos.
A American Heart Association sugere que adultos não consumam mais que 7% de suas calorias na forma de gordura saturada -ou até 16 g para uma dieta de 2.000 calorias.


Texto Anterior: Orientações sobre câncer de mama
Próximo Texto: Dependentes: Capital ganha serviço público
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.