São Paulo, sábado, 05 de março de 2011

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Suor excessivo já é tratado com remédios

Estudo da USP mostra que droga para incontinência urinária, em doses baixas, resolve 50% dos casos de hiperidrose

Novo tratamento evita cirurgia torácica, única solução definitiva para o problema, que afeta 3% dos brasileiros

IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO

Resultados inéditos de um estudo feito no Hospital das Clínicas de São Paulo mostram que medicamentos orais resolvem o problema do suor excessivo em 50% dos pacientes e controlam razoavelmente o quadro em cerca de 25%.
O distúrbio, chamado hiperidrose, afeta quase 3% dos brasileiros, segundo o cirurgião torácico José Ribas Milanês, do Ambulatório de Hiperidrose do HC. Até agora, as opções de tratamento eram a cirurgia torácica ou soluções temporárias, como aplicação de botox.
O cirurgião vascular Paulo Kauffman, do HC, explica que a redução da sudorese já era um efeito conhecido de uma classe de remédios usada para diminuir espasmos musculares, dilatar brônquios ou controlar incontinência urinária, chamados anticolinérgicos.
"Mas eles não eram usados na hiperidrose porque não havia pesquisa mostrando resultados a longo prazo. E os efeitos colaterais das doses habituais eram muito desagradáveis."
O estudo brasileiro é a primeira grande pesquisa controlada com remédios -participaram 500 pessoas. Foi testada uma droga para incontinência urinária (cloridrato de oxibutinina), em doses baixas.
"O resultado é espetacular. Em seis semanas, já dá para saber se a pessoa vai responder ao tratamento, e quase 70% dos pacientes podem dispensar a cirurgia", diz o cirurgião vascular Nelson Wolosker, que também participou da pesquisa.
A principal contraindicação do remédio é para pessoas que têm glaucoma, diz Milanês. Os efeitos colaterais mais importantes são secura na boca e na pele.
Kauffman lembra que, apesar dos bons resultados na maioria das pessoas, ainda há quase 30% que não melhoram com os remédios. "Esses seriam os casos mais indicados para a cirurgia."
Para Wolosker, o remédio é a melhor forma de tratamento inicial. "É acessível, barato e a pessoa pode abandonar na hora que quiser."
A medicação custa entre R$ 20 e R$ 30 por mês. Já a aplicação de toxina botulínica (botox) custa cerca de R$ 2.000 e deve ser repetida a cada seis meses. A cirurgia custa entre R$ 5.000 e R$ 8.000. É oferecida pelo SUS.

OUTROS TRATAMENTOS
Segundo o dermatologista Davi de Lacerda, da Universidade de São Paulo, os tratamentos não cirúrgicos podem minimizar o problema, mas não resolvem.
Uma opção é a aplicação de toxina botulínica."A injeção entra na pele, mas evitamos atingir o músculo. A toxina bloqueia o receptor da glândula sudorípara, que não recebe informações para produzir suor", explica Aldo Toschi, da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Outro tratamento dermatológico é a raspagem da axila, uma espécie de lipoaspiração que raspa as glândulas que produzem suor. "É um pouco dolorida e nem sempre resolve", diz Toschi.
A iontoforese, aplicação de placas elétricas nas áreas de suor excessivo, é menos utilizada por ser pouco prática. A pessoa deve usar o aparelho por 30 minutos quase todos os dias.
A solução definitiva é uma cirurgia minimamente invasiva no tórax. "São feitas duas pequenas incisões no tronco, para atingir e cortar o nervo simpático, que manda o impulso para a glândula sudorípara", explica o cirurgião torácico Luiz Eduardo Villaça Leão, da Unifesp.
A operação é feita sob anestesia geral. Pode causar hiperidrose compensatória, que é o aumento da transpiração em outras partes do corpo, geralmente o tronco.


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