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Fumo passivo eleva risco cardiovascular em crianças e jovens
Garotos na faixa dos oito aos 13 anos que convivem com fumantes já apresentam artérias alteradas, mostra estudo
Especialistas dizem que, se
a exposição à fumaça for crônica, indivíduo poderá apresentar aterosclerose precoce, na fase adulta
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O fumo passivo pode afetar a
saúde das artérias bem mais cedo do que se acredita. Crianças
e adolescentes que moram com
pessoas fumantes já apresentam, em consequência, um espessamento das paredes dos
vasos, conforme revela uma
pesquisa finlandesa publicada
no periódico "Circulation". Até
este momento, esse efeito da
exposição à fumaça do cigarro
não havia sido estudado em
menores de 18 anos.
A pesquisa envolveu 494
crianças de oito a 13 anos. Os
cientistas mediram vários parâmetros que avaliam a saúde
das artérias e verificaram que,
nas pessoas expostas ao cigarro, os indicadores eram piores.
Os participantes foram divididos em grupos conforme os
níveis de cotinina encontrados
no sangue -esse subproduto
da nicotina é o principal marcador para exposição à fumaça.
Um exame de ultrassom mediu o espessamento da aorta e
da carótida. Os resultados da
análise mostram que as crianças com mais cotinina no sangue tinham paredes das carótidas 7% mais espessas, em média, do que aquelas com níveis
mais baixos da substância.
A aorta dos integrantes do
grupo exposto à fumaça de cigarro mostrou-se 8% mais espessa, em média.
A flexibilidade das artérias
do braço -ou fluxo da artéria
braquial-, outro parâmetro da
saúde dos vasos e do risco cardiovascular, mostrou-se 15%
inferior nos adolescentes com
níveis mais altos de cotinina. O
colesterol desses pesquisados
também estava elevado.
Infarto e derrame
Segundo a cardiologista Jaqueline Scholz Issa, diretora do
programa de tratamento de tabagismo do InCor (Instituto do
Coração), esses sinais podem
anteceder ou ocorrer paralelamente à aterosclerose -estando, assim, diretamente associados a eventos cardiovasculares,
como infarto e derrame.
A boa notícia é que o problema pode ser revertido. "Levam-se 24 horas para recuperar a
disfunção endotelial que surge
após meia hora de exposição a
fumaça. Mas, se a exposição for
crônica, com o tempo a pessoa
poderá ter um evento cardiovascular agudo, como infarto
ou AVC, se tiver outros fatores
de risco", diz Issa.
Em outras palavras, a doença
pode não se manifestar durante
a infância, mas, se a criança ou
o adolescente continuar exposto à fumaça, poderá apresentar
aterosclerose mais precocemente do que pessoas que não
convivem com o fumo.
"É uma pesquisa de ponta,
com uma metodologia sofisticada e muitos adolescentes. É
mais um dado que mostra que
fumar em ambiente fechado
não está com nada", afirma.
Fisiologia alterada
Segundo Frederico Leon Arrabal Fernandes, médico colaborador do grupo antitabagismo do Hospital Universitário
da USP, o impacto do fumo passivo nas doenças respiratórias
das crianças já é muito conhecido, mas seu efeito no sistema
cardiovascular, ainda não.
"Esses dados são muito interessantes, porque mostram que
a fisiologia da criança já está alterada, e é sobre essa base que
vai se desenvolver uma doença
cardiovascular quando ela se
tornar adulta."
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