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Plantão Médico
O perigo da propaganda de remédios
JULIO ABRAMCZYK
COLUNISTA DA FOLHA
A propaganda é uma das
formas mais conhecidas para divulgar uma informação.
No caso das que são relacionadas à saúde, existem normas a serem cumpridas para
evitar graves riscos à saúde
da população.
Estudos mostram que de
90% a 100% da publicidade
exibida no Brasil contém irregularidades na propaganda de medicamentos, como
afirma Álvaro César Nascimento, da Escola Nacional
de Saúde Publica Sérgio
Arouca/Fundação Oswaldo
Cruz, na revista "Ciência e
Saúde Coletiva".
Apesar de ser obrigatória a
exibição das contraindicações do remédio em sua propaganda, Nascimento assinala que ela é apenas substituída pela frase "contraindicado para as pessoas com hipersensibilidade aos componentes da fórmula".
Como a publicidade é dirigida para o nome fantasia do
medicamento, e a maioria
das pessoas não conhece o
princípio ativo de drogas que
possam lhe fazer mal, podem
surgir graves problemas.
Da mesma forma, a frase
"a persistirem os sintomas o
médico deverá ser consultado" estimula a automedicação, já que sugere a procura
de atenção médica se não
houver melhora após o uso
do medicamento.
Dessa forma, afirma Nascimento, o modelo brasileiro
regulador da propaganda
farmacêutica, a RDC 102/
2000 da Anvisa, serve apenas para dar a aparência de
uma regulação que, na prática, não existe, já que a ação
reguladora é realizada após a
veiculação da peça publicitária. A população, que já foi
motivada pela publicidade,
poderá consumir um remédio inadequado à sua saúde.
O autor assinala ainda que
as multas podem ser consideradas irrisórias em relação
aos gastos efetuados com a
propaganda.
Concluindo, Nascimento
sugere alteração na estrutura do atual modelo de controle e um debate relacionado à aprovação prévia das
peças publicitárias pelo sistema de vigilância, para prevenir riscos à saúde.
julio@uol.com.br
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