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Crianças têm mais pedra nos rins
Sem pesquisas formais, médicos brasileiros relatam aumento do número de casos nos consultórios
Dieta rica em alimentos industrializados e pouca ingestão diária de água contribuem para formação de mais cálculos renais
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Crianças estão sofrendo mais
de pedra nos rins. É o que constatam os especialistas, que observam aumento do número de
casos de cálculo renal em seus
consultórios. "Não há um trabalho científico brasileiro que
mostre esse fato, mas é possível
afirmar isso com base em conversas com outros urologistas.
Atendo uma criança por dia
com pedra no rim. Alguns anos
atrás, havia um caso por mês",
diz Miguel Zerati Filho, chefe
do Departamento de Uropediatria da Sociedade Brasileira de
Urologia.
As mudanças dos hábitos alimentares são uma das causas
do aumento da incidência do
problema. É que a dieta mais rica em alimentos industrializados e pobre em ingestão de
água favorece a formação de
cálculos. Refrigerantes e sucos
artificiais, além de oferecerem
sódio, contêm corantes, que
também contribuem para a formação dos cálculos renais. "A
comida muito rica em sal, como
salgadinhos e hambúrguer,
provoca aumento da eliminação do cálcio nos rins", explica
Nilzete Liberato Brezolin, presidente do Departamento
Científico de Nefrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Para eliminar o sódio em excesso, o organismo também passa
a eliminar mais cálcio. Esses
cristais, que podem ser formados também por sais de cálcio,
ácido úrico, estruvita ou cistina
(um tipo de aminoácido), quando presentes em grande quantidade, podem se aglomerar e
formar pedras.
Outro fator predisponente é
o aumento do número de bebês
prematuros. Como o sistema
urinário ainda não está completamente amadurecido, os
rins não lidam bem com a excreção das substâncias. "Temos
casos de recém-nascidos com
cálculo, já que hoje em dia conseguimos manter vivos prematuros extremos", afirma João
Tomás de Abreu, chefe do setor
de nefrologia pediátrica da
Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo). No entanto, se o
problema do bebê é relativo somente à imaturidade do organismo, à medida que cresce, a
situação pode se normalizar.
O maior acesso a exames
mais precisos também ajuda a
engrossar os números. "Com a
popularização do ultra-som,
muitos cálculos encontrados
são os que chamamos de incidentais, muito pequenos, que
dificilmente causariam sintomas antes da adolescência", explica Zerati Filho.
Fatores inevitáveis
Algumas crianças têm chances maiores de sofrerem de litíase (formação de cálculos). A
herança genética é um forte indicador de risco e deve servir de
alerta para uma reclamação de
dor inespecífica. Filhos, netos
ou sobrinhos de pessoas que já
passaram pelo problema são
mais predispostos a desenvolver pedra no rins.
Alguns distúrbios metabólicos também podem levar a
maior produção ou grande dificuldade de eliminação das
substâncias. A baixa produção
de citrato, um elemento que
auxilia na solubilização dos
cristais, propicia a aglomeração
desses elementos.
Além disso, infecções urinárias que causam febre, bastante
comuns na infância, podem
passar despercebidas pelo pediatra, mas contribuem para
um cenário propício à formação de cálculo. "Algumas bactérias desdobram a uréia do organismo e é produzida uma enzima formadora de pedras. É comum tratar crianças com infecção e litíase", diz Zerati Filho.
O tratamento, nesses casos, é
semelhante ao dos adultos para
a eliminação das pedras e não
há mudanças na dieta alimentar. Como estão em fase de
crescimento, não podem restringir o consumo de fontes de
cálcio, como os laticínios, e de
ácido úrico, como as carnes. "O
nefrologista pediátrico lida de
forma diferente, não nos preocupamos com restrições na infância. O indivíduo que tem
carga genética excreta muito
independentemente da dieta",
afirma João Tomás de Abreu,
da Unifesp.
Mas a ingestão de líquidos e
de alimentos supérfluos ricos
em sódio, como os salgadinhos
e biscoitos recheados, pode ser
alterada. "A criança deve ingerir no mínimo 50 ml de água
por quilo e pode evitar alimentos muito salgados", diz Nilzete
Liberato Brezolin.
Especialmente nesta época
do ano, quando os dias são mais
quentes, é preciso monitorar o
consumo de líquidos -a urina
da criança deve ter cor clara, do
contrário, é sinal de que não bebe quantidade suficiente de líquidos. Pesquisas realizadas
com adultos mostram que, no
verão, a eliminação de cálcio
pela urina é maior.
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