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25% da população toma 80% do álcool consumido no Brasil
Dados são de estudo que mapeou padrões de ingestão de álcool; pesquisa revela que metade da população não bebe
Artigo mostra que consumo moderado não é a regra no país; pesquisa ouviu 2.346 indivíduos com mais de 18 anos em 143 cidades do país
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
O consumo moderado de álcool não é regra no país. Enquanto metade da população
brasileira se diz abstêmia, os
bebedores apresentam alto nível de consumo de risco -bebem regularmente e em grande
quantidade. Apenas um quarto
dos brasileiros consome 80%
do álcool ingerido no país.
Essas são as conclusões de
um estudo que fez um retrato
do padrão de uso de álcool pelos brasileiros, realizado pela
Unidade de Pesquisa em Álcool
e Drogas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que
acaba de sair na "Revista Brasileira de Psiquiatria".
O estudo, o primeiro levantamento do gênero no país, entrevistou 2.346 indivíduos com
mais de 18 anos em 143 cidades.
Os resultados mostram que
48% não haviam ingerido álcool nos últimos 12 meses. Por
outro lado, do total da amostra,
28% relataram pelo menos um
episódio de crise de ingestão
("binge drinking", mais de cinco doses em homens e quatro
em mulheres em uma ocasião).
Um quarto da amostra relatou ao menos um tipo de problema relacionado ao álcool
(entre questões de saúde, familiares, no trabalho e violência),
3% preencheram os critérios
para abuso e 9%, para dependência química. No Sul consome-se com maior frequência;
nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, em maior quantidade.
Outro problema apontado é
que o alto consumo de álcool
continua até por volta dos 40
anos de idade. Em outros países, a ingestão cai após os 20.
Segundo a pesquisa, a bebida
mais ingerida é a cerveja (mais
de 60%), seguida do vinho.
"Trata-se de uma das principais causas de morte e de violência doméstica", diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, líder do trabalho. "No entanto,
não há políticas consistentes
para reduzir o consumo."
"É preciso persistência nos
esforços de conscientização e
medidas restritivas", diz o psiquiatra Carlos Salgado, presidente da Associação Brasileira
de Estudo do Álcool e Outras
Drogas. "Os efeitos do álcool no
organismo variam de pessoa
para pessoa e há quem sofra danos mesmo com baixas doses.
Por isso, a dose sem risco é zero, já que não se sabe qual pessoa tem predisposição a desenvolver dependência."
Segundo Salgado, entre os
adolescentes, a bebida é especialmente perigosa, pois o cérebro ainda está em formação e a
chance de fixar o interesse pela
substância é maior.
"Só havia estudos regionais
ou que mensuravam abuso e
dependência. Esse é o primeiro
que mostra como o brasileiro
bebe", diz a psiquiatra Camila
Magalhães Silveira, do Instituto de Psiquiatria do Hospital
das Clínicas, de São Paulo, e
coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool. "Em 2004, a OMS (Organização Mundial da Saúde)
percebeu que dados do consumo per capita não mostravam
necessariamente as regiões que
tinham problemas com o álcool. Um exemplo é a França,
que tem alto consumo per capita e, no entanto, os franceses
bebem moderadamente", diz a
pesquisadora. Ela é autora de
um estudo que mostrou que a
prevalência de episódios de
consumo pesado de álcool em
São Paulo é de 15,4% nos homens e de 7,2% nas mulheres.
Política global
No mês passado, a OMS publicou uma resolução recomendando aos países membros
a adoção de uma estratégia global, nos padrões das ações contra o tabaco, para reduzir o consumo abusivo de álcool. "Na
prática, a resolução indica que a
OMS se esforçará para convencer os países membros a se
adaptarem a essa nova política.
Isso fortalece a busca de soluções", afirma Laranjeira.
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