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Vírus da hepatite B cria resistência a droga usada no SUS
Ministério da Saúde formula novo protocolo para tratar a doença, que atinge 2 milhões no país, com medicamentos mais modernos
Estudos mostram que em um dos remédios a taxa de resistência chega a 80% a partir do quinto ano de uso; outro tem baixa eficácia
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O vírus da hepatite B, doença
que atinge 2 milhões de brasileiros, criou resistência a um
dos principais medicamentos
usados no SUS (Sistema Único
de Saúde), o que está levando o
Ministério da Saúde a formular
uma nova política para melhorar o tratamento da doença.
Inalterado há seis anos, o
atual protocolo prevê a distribuição de apenas dois remédios-o interferon alfa e a lamivudina. No caso da lamivudina,
estudos mostram que a taxa de
resistência do vírus chega a
80% a partir do quinto ano de
uso. O interferon alfa tem baixa
eficácia e efeitos colaterais.
A expectativa dos médicos é
que o novo protocolo inclua
drogas mais eficazes e com uma
taxa de resistência menor. Entre elas estão o entecavir (Bristol), o adefovir (GSK) e a telbivudina (Novartis), além dos interferons peguilados.
Segundo o médico Evaldo
Stanislau Affonso de Araújo, do
Hospital das Clínicas da USP e
coordenador do comitê de hepatites da Sociedade Brasileira
de Infectologia, há um consenso de que os atuais medicamentos antivirais usados no SUS estão ultrapassados.
"Eles não são os ideais para
quem já está em tratamento
nem para quem vai começar."
Araújo afirma que a lamivudina, por exemplo, deveria ser
usada somente em casos de
emergência. "Quando o paciente já tem indicação de transplante, por exemplo."
Araújo participou do comitê
científico que preparou o novo
protocolo no Ministério da
Saúde e diz que as drogas usadas atualmente no SUS diminuem a carga viral num primeiro momento, mas inviabilizam
o tratamento a longo prazo. "A
doença acaba evoluindo para
transplantes e outras complicações, como câncer. Além de
prejuízo ao paciente, isso encarece o sistema de saúde."
Segundo ele, a tendência é
que haja uma associação de
medicamentos para controlar a
doença. Para Araújo, os custos
adicionais trazidos por essas
novas drogas não deverão ser
muito altos porque apenas uma
parcela dos pacientes -aqueles
multirresistentes- irá precisar
delas. Segundo o Ministério da
Saúde, ainda não há uma previsão do custo da inclusão dessas
novas drogas no SUS.
Na opinião de Jeová Pessin
Fragoso, dirigente da ONG
Grupo Esperança, voltada a
portadores de hepatite, a expectativa é que o novo protocolo inclua, além dos novos medicamentos, exames de biologia
molecular, usado para medir a
carga viral e definir as estratégias de tratamento adequadas
para cada paciente.
Fragoso afirma que são poucos os locais do SUS que oferecem esses exames.
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