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Cesáreas representam 57% dos partos em SP
Índice aceitável é de 15%, para OMS; maioria das cirurgias ocorre no setor privado de saúde, revela pesquisa da Seade
Levantamento também mostra queda na taxa de fecundidade da mulher paulista e aumento da
idade média das mães
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Na última década, a taxa de
cesáreas em São Paulo cresceu
quase dez pontos percentuais,
atingindo 56,7% dos partos. A
Organização Mundial da Saúde
considera aceitável um índice
de até 15% de cesáreas.
A maioria dos partos cirúrgicos ocorre no setor privado de
saúde. "Sou diretor-clínico da
Pró Matre, de São Paulo, e percebo um crescimento brutal da
prática", diz o obstetra Bussâmara Neme, professor da USP,
Unicamp e PUC.
O médico, que em 2009 declarou à Folha que qualquer débil mental faz cesárea, diz que a
distorção no Brasil e em São
Paulo é muito grande. "Todo
mundo sabe que estamos fazendo cesáreas demais, e que
fatores como a comodidade do
médico e interesses econômicos estimulam a prática", diz.
"É claro que a natureza [da
mulher] foi feita para o parto
vaginal e, se as condições forem
boas, é o ideal. Mas, embora a
cesárea não deva ser um procedimento de escolha, há várias
indicações para ela, que podem
salvar a vida da mãe e do bebê",
diz Sergio Peixoto, professor de
ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC.
Ele acrescenta que o critério
de 15% da OMS é "relativo".
Escalada
O número de partos cirúrgicos em São Paulo apresenta um
crescimento consistente na última década: em 1998, o índice
era de 48,3%, e houve crescimento de cerca de um ponto
percentual em todos os anos,
com exceção de 1999, que apresentou uma pequena queda, de
menos de 1%, nas cesáreas.
"É possível que essa diminuição tenha sido efeito de uma
campanha feita na época, para
estimular o parto natural. Mas
foi algo muito pontual, que não
reverteu a tendência ao crescimento", diz a demógrafa Lúcia
Mayumi Yazaki, responsável
pelo estudo da Seade.
As regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul do país sempre tiveram os maiores números de
partos cirúrgicos do Brasil, superando a média nacional.
Segundo os últimos dados do
IBGE (2007), a média de cesáreas foi de 46,6% no Brasil todo, mas as três regiões superaram a marca dos 50%.
Só no Estado de São Paulo,
foram 55,2% dos partos, quase
três vezes a porcentagem recomendada pela Organização
Mundial da Saúde.
Menos filhos
O estudo da Seade também
mostrou que a fecundidade das
paulistas está caindo: em 2008,
a média de filhos foi de 1,7 por
mulher. É a metade da taxa registrada em 1980.
A Grande São Paulo foi a que
apresentou a maior taxa de fecundidade, com 1,84 filho por
mulher. O menor índice foi o da
região de São José do Rio Preto.
A idade das mães também está crescendo. A faixa etária da
maior parte das mulheres que
tiveram filhos em 2008 foi a de
25 a 29 anos. Há dez anos, a
maioria das parturientes tinha
entre 20 e 24.
O número de mulheres mais
velhas tendo filhos também subiu. Enquanto em 1998, apenas
1,6% das mulheres de 40 a 44
anos teve filhos, a porcentagem
subiu para 2,4% em 2008.
Entre as mulheres com menos de 20 anos, a taxa de fecundidade caiu de 20%, há doze
anos, para 16%, em 2008. "Esses números também refletem
a diminuição de gravidez na
adolescência ocorrida em São
Paulo", diz Yazaki.
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