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Açúcar é consumido em excesso
Mais de um terço dos adultos e 70% dos jovens ingerem açúcar além do recomendado pela OMS
Pesquisa inédita mostra que refrigerantes e exagero na adição de açúcar às bebidas estão entre os principais responsáveis pelo excesso
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de um terço dos adultos
e idosos e 70% dos adolescentes consomem açúcar além do
limite estabelecido pela OMS e
pelo Ministério da Saúde, revela um estudo feito pela USP
(Universidade de São Paulo)
com mais de 2.000 moradores
da cidade de São Paulo.
Além de não ter valor nutricional, o açúcar em excesso foi
associado ao déficit de nutrientes. Segundo as autoras, apesar
de o Brasil ser um dos principais produtores mundiais de
açúcar proveniente da cana,
não há estudos populacionais
que investiguem esse consumo
entre os brasileiros.
Os resultados são fruto de
duas pesquisas feitas a partir de
um mesmo banco de dados.
Uma delas focou na análise dos
adultos e idosos e a outra, no
consumo dos adolescentes. Os
trabalhos investigaram a ingestão do açúcar presente nos alimentos industrializados e do
de adição (aquele que é acrescentado aos preparados).
Entre as pessoas com consumo excessivo, o açúcar representa, em média, 12% das calorias ingeridas diariamente,
contra os 10% recomendados.
Em alguns casos, esse valor
chegou a 25%. Embora o valor
não seja tão alto, ele causa
preocupação.
"O valor de 10% já é o limite.
Além disso, o maior consumo
de açúcar associou-se à menor
ingestão de alguns nutrientes,
como proteína, fibras, zinco,
ferro, magnésio, potássio, vitamina B6 e folato", diz a nutricionista Milena Bueno, uma
das autoras da pesquisa.
Doce vício
Além de causar cáries, os alimentos açucarados levam facilmente ao ganho de peso -fator
agravado porque normalmente
esses produtos contêm gorduras. E a obesidade está relacionada a várias doenças. Alguns
estudos também sugerem que
os doces despertem uma espécie de vício. "A pessoa passa a
querer mais", afirma Luciana
Bruno, nutricionista da Sociedade Brasileira de Diabetes.
A maior prevalência do consumo exagerado ocorre nos
adolescentes. Mas a pesquisa
revelou que, em média, 37%
dos adultos e idosos abusam do
doce. Entre as mulheres adultas, 40% ultrapassam os limites, contra 35% dos homens.
Nos idosos, as taxas são 30% e
23%, respectivamente.
Os refrigerantes foram os
maiores responsáveis pelo excesso de açúcar consumido por
adolescentes e adultos. Nos
mais jovens, a bebida responde
por 34,2% do açúcar ingerido
pelos meninos e 32% do açúcar
ingerido pelas meninas. Já os
alimentos achocolatados em pó
representam 11% do consumo.
Entre os idosos, a principal
fonte foi o açúcar de adição.
"Provavelmente pelo consumo
em cafés e chás", acredita a nutricionista Milena Bueno. Mas
itens como bolachas recheadas,
bolos prontos, sucos industrializados e cereais matinais também contribuíram.
Amostra representativa
A pesquisa ouviu 793 adolescentes, 689 adultos e 622 idosos. Os voluntários, todos residentes em São Paulo, foram selecionados a partir de dados da
Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios, do IBGE, e responderam a um questionário
detalhado sobre a consumo de
alimentos no dia anterior. "É
uma amostra que pode ser considerada representativa do município de São Paulo", diz a nutricionista Ana Carolina Colucci, também autora do trabalho.
"Podemos extrapolar os dados para regiões com as mesmas características, ou seja, a
população urbana de grandes
cidades brasileiras", acrescenta
Milena Bueno.
Outras conclusões do estudo
revelaram que mulheres consomem mais açúcar do que os
homens e que não há diferenças significativas em função do
nível socioeconômico.
"Não esperávamos encontrar
essa alta prevalência de adolescentes com consumo acima do
limite máximo", diz Ana Carolina Colucci.
"Isso é preocupante principalmente se considerarmos
que o açúcar de adição não são
componentes essenciais à dieta, devendo ser inseridos de
maneira restrita tanto em relação à frequência quanto à
quantidade em uma alimentação saudável", lembra ela.
Para diminuir a dose diária
de açúcar, é possível mudar alguns hábitos, como evitar
acrescentar o alimento a sucos
e vitaminas e diminuir as colheradas em bebidas como café
e chás. "Também vale substituir o açúcar branco pelo demerara ou pelo mascavo, que têm a
mesma quantidade de calorias,
mas menos aditivos químicos",
recomenda a nutricionista Luciana Bruno.
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