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Comida de homem x Comida de mulher
Por que elas vão de quiche e eles, de bife com gordura
DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE
A diferença entre os paladares feminino e masculino é
conhecida. Elas comem salada, bebem uma taça de vinho
e querem chocolate na TPM.
Já os homens não dispensam aquela gordurinha da
carne, carregam o prato com
temperos e tomam drinques
mais agressivos, tipo uísque.
Mas serão as razões para
essa diferença biológicas ou
sociais? A pressão por manter o peso, para as mulheres,
e a associação entre carne e
masculinidade são mais determinantes do que a maneira como cada um dos sexos
percebe os sabores e as texturas dos alimentos?
Segundo a endocrinologista e nutróloga Vânia Assaly, são os hormônios que
determinam o ponto de prazer e saciedade de cada um.
"Para as mulheres, aquilo
que equilibra o bem-estar é a
serotonina. E os alimentos
que aumentam o nível de serotonina são os adocicados."
Para os homens, o sistema
regulador é o da dopamina.
"São alimentos mais fortes
que aumentam o nível de dopamina: carne, gordura, álcool e comidas amargas."
O aumento de serotonina
traz bem-estar, sensação de
repouso, que é o prazer buscado pela mulher.
Já a dopamina aumenta a
motivação e a força, deixando o macho "pronto para o
combate", diz a médica.
As diferenças podem começar até antes, na própria
percepção dos sabores. A hipersensibilidade de paladar
aparece em 35% das mulheres, e só em 15% dos homens.
O gosto amargo e a sensação tátil causada por alimentos gordurosos contra a língua são muito mais poderosos para quem é hipersensível. Assim, essas pessoas
preferem alimentos com gosto mais discreto.
A diferenciação dos sabores também é mais aguçada
nas mulheres. Uma pesquisa
feita com mais de 8.000
crianças na Dinamarca mostra que as meninas sabem
distinguir melhor os sabores
e reconhecem o doce e o
amargo em concentrações
menores que os meninos.
Outro estudo, feito aqui na
Faculdade de Saúde Pública
da USP, mostrou que meninas percebem o gosto ácido
melhor do que meninos.
Genética e bioquímica se
somam aos condicionamentos sociais para criar essa diferenciação, que parece tão
estereotipada.
INFLUÊNCIAS EXTERNAS
Segundo o pesquisador
Brian Wansink, do Food and
Brand Lab da Universidade
de Cornell (EUA), a imagem
de certos alimentos, criada
pela publicidade, tem grande influência nos desejos.
Wansink deixa os determinismos biológicos de lado e
diz que as influências externas são importantes e, ao
mesmo tempo, ignoradas pelas pessoas, conforme estudo
na revista da American
Psychological Association.
Seria então da sociedade a
autoria da associação entre
masculinidade e carne ou feminilidade e chocolate.
Para Assaly, a interação
entre os nutrientes e a bioquímica cerebral é adaptativa. "A percepção e o desejo
por alguns alimentos foram
construídos. Mas se não tivesse chocolate, a gente buscaria frutas com essa mesma
qualidade no paladar."
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