São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2011

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Poluição do ar deixa roedor depressivo

Capacidade de aprendizado e memória dos animais também foi afetada, revela estudo feito por americanos

Alterações em área do cérebro incluem menos projeções nas células nervosas; há indícios do efeito em humanos

MARIANA PASTORE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
MARY PERSIA
DE SÃO PAULO

A exposição prolongada à poluição pode danificar o cérebro e causar problemas de aprendizagem, memória e até depressão, indica um estudo feito com camundongos, publicado na revista "Molecular Psychiatry".
A pesquisa é uma das primeiras a observar o impacto de poluentes no cérebro.
Uma das autoras do estudo, Laura Fonken, da Universidade de Ohio, diz que a descoberta pode ter implicações importantes para pessoas que vivem e trabalham em áreas urbanas poluídas.
"Os resultados sugerem que a poluição pode ter efeitos negativos visíveis sobre o cérebro, o que pode levar a uma série de problemas de saúde."
Fonken e seus colegas dividiram os roedores em dois grupos: um foi exposto a ar puro, enquanto o outro respirou ar poluído, durante seis horas diárias, cinco vezes por semana, de abril de 2009 a janeiro de 2010.
Os pesquisadores tentaram recriar a concentração de poluentes em algumas áreas urbanas, com partículas de 2,5 micrômetros (milésimos de milímetro), que podem chegar a áreas profundas dos órgãos do corpo.
Passados dez meses, os camundongos foram submetidos a testes de aprendizagem e memória no laboratório.
Depois de cinco dias de treinamento, eles foram colocados em uma área muito iluminada. Os animais tinham dois minutos para encontrar um buraco escuro, onde se sentem mais confortáveis. Aqueles que respiraram o ar poluído levaram mais tempo para saber onde estava o buraco.
Em outro experimento, os camundongos expostos ao ar poluído apresentaram níveis mais altos de depressão e ansiedade que os demais. A autora ainda destacou que o estudo foi feito apenas com roedores do sexo masculino. "A depressão afeta as mulheres desproporcionalmente, por isso, gostaria de analisar os efeitos da exposição em fêmeas no futuro."
Para descobrir como a poluição levou a essas mudanças de memória e humor, a equipe comparou o hipocampo (área do cérebro ligada à memória e a outras funções) dos dois grupos e descobriu claras diferenças físicas.
Camundongos expostos ao ar poluído tinham dendritos (áreas ramificadas dos neurônios, que conduzem impulsos nervosos a outras células) mais curtos, por exemplo.
Para a neurologista Sonia Brucki, do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia, os problemas pulmonares ligados à poluição prejudicam as trocas gasosas, o que compromete o funcionamento cerebral. Para Fonken, ainda não se sabe se os danos são permanentes. "Não investigamos isso, mas pretendemos fazer mais estudos no futuro."


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