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Consumo de emagrecedor despenca após restrições
Vendas de sibutramina, controlada desde abril, caíram 60% no trimestre
Para Vigilância Sanitária, isso prova que havia abuso; para médico, a maioria dos obesos não é tratada
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
As vendas de inibidores de
apetite com sibutramina caíram 60% neste ano, quando
passaram a ser controladas.
Até então, a droga era a mais
usada para perder peso.
Para comprá-la, é preciso a
receita azul, numerada e
emitida pela Vigilância Sanitária de cada região -antes,
bastava a branca. O remédio
passou a ter tarja preta.
O objetivo da mudança era
diminuir o consumo do emagrecedor que, segundo estudos, aumenta em 16% o risco
cardiovascular não fatal.
A pedido da Folha, o instituto IMS Health do Brasil,
consultoria especializada no
mercado farmacêutico, levantou as vendas de sibutramina nos primeiros semestres de 2009 e deste ano.
Entre abril e junho deste
ano, houve queda de 60,19%
(de 1.628.350 unidades para
648.243) em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
No Brasil, 22 laboratórios comercializam a droga, sob os
nomes de Reductil, Plenty,
Saciette, Biomag, Vazy, Slenfig e Sibutran, entre outros.
Para Dirceu Raposo de Mello, presidente da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a queda
nas vendas demonstra que
havia um exagero na indicação. "Muito do que era prescrito não era necessário."
O médico Marcio Mancini,
presidente do Departamento
de Obesidade da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia
e Síndrome Metabólica, discorda de que havia consumo
exagerado. Ele diz que a
maioria dos obesos ainda
não é tratada e atribui a queda ao aumento da burocracia
para a compra do remédio.
Na opinião dele, médicos
que prescreviam a sibutramina ocasionalmente (como ginecologistas e cardiologistas) deixaram de fazê-lo em
razão das dificuldades para
conseguir o receituário azul.
"É preciso ir até a Secretaria da Saúde, pegar a numeração, mandar fazer os bloquinhos na gráfica. É muito
trabalho", conta.
DEPENDÊNCIA
O fato de alguns municípios, como São Paulo, terem
vetado o uso da sibutramina
na rede pública também teve
reflexo nas vendas.
"A inserção da sibutramina na lista de medicamentos
que causam dependência foi
um equívoco. Muitas pessoas
que precisam emagrecer não
serão tratadas ou serão medicadas com drogas menos eficazes", afirma Mancini.
Para Rosana Radominski ,
presidente da Abeso (associação para estudo da obesidade), muitas pessoas se assustaram com a inclusão da
droga entre as que causam
dependência e interromperam o uso por conta própria.
"A sibutramina não causa
dependência. É segura quando bem indicada. Pacientes
que estavam se dando bem
com a droga, perdendo peso,
não querem mais usá-la."
Para o clínico-geral Pieter
Cohen, professor na Escola
de Medicina de Harvard, controlar a venda de sibutramina foi uma "excelente" medida do governo brasileiro.
"Para muitos pacientes, não
está muito claro se os benefícios superam os riscos."
Cohen, pesquisador sobre
pílulas de emagrecimento
vendidas pela internet, diz
que o governo deve dar atenção à venda virtual . "Espero
que os brasileiros não passem a comprar sibutramina
em outros países, pela internet, já que agora não está tão
fácil obtê-la no Brasil."
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