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Dieta pode agir contra depressão
Pesquisa com 10.094 espanhóis mostrou que cardápio mediterrâneo tem efeito protetor no cérebro
De acordo com o estudo,
os voluntários com maior adesão a essa dieta tinham risco cerca de 30% menor
de desenvolver o distúrbio
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Fortemente relacionada à redução de risco para doenças
cardiovasculares, a dieta mediterrânea mostrou efeito protetor contra a depressão em um
estudo realizado com 10.094
pessoas. O trabalho foi publicado na edição de outubro do "Archives of General Psychiatry",
um dos periódicos da Associação Médica Americana.
Pesquisadores das universidades de Las Palmas de Gran
Canaria e de Navarra (ambas
na Espanha) avaliaram dados
desses espanhóis, que preencheram questionários de 1999 a
2005 sobre a própria ingestão
alimentar. Eles calcularam a
adesão à dieta mediterrânea
baseados em nove itens: maior
ingestão de gorduras monoinsaturadas em comparação às
saturadas, consumo moderado
de álcool e laticínios, baixa ingestão de carne vermelha e alto
consumo de legumes, frutas,
oleaginosas (como nozes e castanhas), cereais e peixes.
Após acompanharem os voluntários por cerca de quatro
anos, identificaram 480 novos
casos de depressão -a maioria
(324 ocorrências) em mulheres. Os que seguiram a dieta
apresentaram risco 30% menor de desenvolver depressão.
Para chegar aos resultados, foram ajustados outros fatores
influenciáveis, como estilo de
vida, estado civil, doenças crônicas e uso de antidepressivos.
"Algumas variáveis, como os
que não desenvolveram depressão serem mentalmente
mais saudáveis e mais propensos a aderir a uma dieta mais
saudável, não foram medidas.
Mas é um estudo benfeito, com
metodologia adequada", pondera a psiquiatra Andrea Feijó
de Mello, da Associação Brasileira de Psiquiatria e pesquisadora da Unifesp.
Trabalhos anteriores mostram que populações que consomem altas quantidades de
peixes apresentam menores índices de depressão. Uma das
explicações é que o ácido graxo
ômega 3 (presente em peixes
de água fria, como o salmão) influencia na estrutura do sistema nervoso central e no transporte de neurotransmissores.
Os ácidos graxos ajudam na
formação da membrana celular, tornando-a mais fluida. A
fluidez das membranas dos
neurônios contribui para uma
melhor plasticidade cerebral
(capacidade de os neurônios se
comunicarem), fator importante para o equilíbrio emocional do paciente.
"Quando há empobrecimento da comunicação, há prejuízos na memória, fluência verbal, criatividade e iniciativa,
que são sintomas da depressão,
fazendo a pessoa se tornar mais
vulnerável à doença", diz Renério Fráguas Jr., supervisor da
residência médica do Instituto
de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas de São Paulo.
Vitaminas
A dieta mediterrânea também oferece bons teores de folato e vitamina B12 (presentes
em vegetais, peixes e ovos), nutrientes que participam como
cofatores na sintetização de serotonina no cérebro, neurotransmissor relacionado às alterações no humor.
Segundo Fráguas Jr., alguns
estudos mostram resultados
significativos da suplementação em pacientes que têm depressão e não apresentam melhora com medicamentos.
"É um dos mecanismos para
explicar a associação entre
questões nutricionais e depressão. Na prática, já oferecemos
suplementos, principalmente
para idosos que podem ter uma
diminuição na absorção desses
nutrientes e podem ser mais
vulneráveis à depressão."
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