|
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Taxa de fertilização sobe na primavera
Pela hipótese, dias mais luminosos causam mudanças cerebrais que estimulam atividades endócrinas e reprodutivas
Estudo brasileiro analisou os ciclos de 1.932 mulheres que se submeteram ao processo "in vitro"
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
A primavera é a estação do
ano mais propícia para a fertilização humana. Pelo menos para aquela que acontece no laboratório.
É o que sugere o primeiro
estudo brasileiro sobre o impacto da sazonalidade na reprodução assistida, apresentado no congresso mundial
de fertilidade, na Alemanha.
O assunto é controverso e
ainda não há um consenso
sobre os reais efeitos desse
fator ambiental nas taxas de
fertilidade humana -em outros mamíferos, como bois e
macacos, a influência é mais
conhecida e documentada.
A hipótese é que a fertilidade seja estimulada pela intensidade da luminosidade
diária. Dias mais luminosos
estariam associados a mudanças no cérebro responsáveis por mediar atividades
endócrinas e reprodutivas.
No estudo brasileiro, foram avaliados ciclos de 1.932
mulheres que passaram pela
fertilização in vitro em uma
clínica de São Paulo, entre
2005 e 2009. Os ciclos foram
agrupados de acordo com a
estação do ano: 435 no inverno, 444 na primavera, 469 no
verão e 584 no outono. Variáveis como idade, causa de infertilidade e qualidade do sêmen foram controladas.
Na primavera, a taxa de
fertilização dos óvulos foi a
mais alta (73,5%). No outono, no verão e no inverno, os
percentuais foram de 69%,
68,7% e 67,9% respectivamente, segundo o estudo.
A resposta ovariana (número de óvulos produzido
pela mulher após tomar as
drogas hormonais) também
foi melhor na primavera. Já a
taxa de gravidez foi maior no
verão (35,5% contra os 32,6%
registrados na primavera).
MELATONINA
Segundo Edson Borges Júnior, um dos autores do trabalho e doutor em ginecologia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), a gravidez depende de outros fatores que não apenas os ambientais, o que dificulta analisar a sazonalidade.
Já a fertilização dos óvulos
teria grande influência ambiental, na sua avaliação. A
explicação é que a luminosidade da primavera aumenta
a atividade da melatonina
(hormônio que regula o sono) que, por sua vez, afeta
áreas do hipotálamo.
Isso levaria a uma maior
secreção dos hormônios reprodutivos, como o FSH (hormônio estimulante folicular), o LH (hormônio luteinizante), que agem no ovário, o
que melhora a resposta ao
tratamento de fertilização.
O urologista Jorge Hallak,
médico-assistente do Hospital das Clínicas da USP e um
dos maiores pesquisadores
brasileiros sobre sêmen, diz
que os gametas masculinos
também têm qualidade superior na primavera.
Além da influência da melatonina, diz ele, isso se deve
também à vitamina D, que é
estimulada pela exposição
ao sol. "É na mudança do inverno para a primavera que
isso é mais percebido."
O próximo passo, explica
Borges Júnior, será estudar
diferentes regiões brasileiras
e avaliar se a latitude influi
nas taxas de fertilização. "Isso poderá ajudar na elaboração de novos protocolos de
tratamento, levando em consideração a influência de
efeitos sazonais no sistema
endócrino-reprodutivo."
Próximo Texto: Nascimentos são mais comuns nos meses de outono Índice | Comunicar Erros
|