|
Próximo Texto | Índice
Pesquisa encontra contaminação em ônibus de São Paulo
Bactérias não fazem mal a quem tem imunidade saudável, mas podem provocar infecção em bebês, idosos e doentes
Ciclo de contaminação seria minimizado se as pessoas lavassem mais as mãos; riscos quase zeram com o hábito, afirma pesquisadora
FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem anda de ônibus em São
Paulo tem um ótimo motivo
para lavar as mãos logo depois.
Pesquisadores da Faculdade de
Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo coletaram 120
amostras em balaústres de 40
ônibus da cidade e descobriram
que todas estavam contaminadas com microorganismos. O
estudo foi publicado em outubro na revista "Arquivos Médicos", editada pela instituição.
Apesar de não causarem danos maiores a pessoas que têm
a imunidade conservada, os microorganismos encontrados
podem provocar infecções em
quem tem resistência mais baixa, como idosos, bebês, pessoas
que passaram por um transplante ou que tomam remédios
imunossupressores -que baixam as defesas do organismo.
As infecções podem ir de simples dermatites ou abcessos na
mão a pneumonias, dependendo do grau de resistência.
Segundo Lycia Mimica, presidente da comissão de controle de infecção hospitalar da
Santa Casa e professora de microbiologia da Faculdade de
Ciências Médicas da instituição, o resultado era esperado.
"O pessoal vem com a mão suja
e passa essas bactérias para o
ônibus ao segurar nele. O próximo que chega, então, pega no
mesmo local e se contamina",
explica. Ela diz que o mesmo
processo provavelmente ocorre em trens, táxis e outros veículos de transporte público.
Segundo Mimica, o problema
do ciclo de contaminação seria
minimizado com uma medida
corriqueira: lavar as mãos. "O
risco passa a ser praticamente
zero. Mas as pessoas não têm
esse costume. Andam por aí, tocam mil superfícies diferentes,
mas só lavam as mãos quando
saem do banheiro."
Ela diz que não se trata de falta de higiene das empresas de
ônibus. "O fluxo de passageiros
entre uma viagem e outra é
muito grande, não haveria jeito
de a empresa controlar. O passageiro é que tem que tomar
cuidado mesmo."
Apesar de a maioria dos microorganismos encontrados
não ser dos mais patogênicos
nem apresentar grande resistência a antibióticos, Mimica
diz que nada impede que uma
pessoa com doenças como
pneumonia ou diarréia transmita microorganismos mais
danosos da mesma forma. E
uma das amostras da pesquisa
continha uma bactéria mais perigosa, o MRSA (um tipo de estafilococo), até recentemente
restrito a hospitais. Mas trabalhos atuais vêm relatando sua
presença na comunidade.
Atualmente, o grupo de Mimica pesquisa visitantes de pacientes internados na UTI e detectou a presença da bactéria
nas mãos dessas pessoas no
momento em que saem do hospital. "O familiar toca ou abraça
o paciente e esquece de lavar a
mão quando sai. Com isso, acaba transportando a bactéria para fora do hospital."
Para Jacyr Pasternak, infectologista do Hospital Israelita
Albert Einstein, o grande problema em ambientes com muita aglomeração de gente, como
os ônibus, é a transmissão de
doenças pelo ar, como gripe, tuberculose e rotavírus. "Se a pessoa tosse perto de você, pode
transmitir a doença. E não há
muito o que fazer nesse caso, já
que ninguém vai ficar andando
de máscara por aí", diz.
Ele lembra, no entanto, que
não há que se alarmar por cada
bactéria que aparece, pois muitas vivem pacificamente no
nosso organismo. "Vivemos
num mundo de micróbios. Para
cada célula humana, há mil células bacterianas que coexistem no nosso organismo. Isso é
inevitável", afirma.
Próximo Texto: Bactérias resistem em ambientes externos Índice
|