São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2008

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Genérico e de marca têm efeito igual

Medicamentos apresentam a mesma eficácia no tratamento de doenças cardiovasculares, diz estudo

Trabalho avaliou 47 análises clínicas comparativas de genéricos e remédios de marca publicadas entre 1984 e agosto de 2008

Luiz Carlos Murauskas - 25.jul.2005/Folha Imagem
Funcionárias trabalham em laboratório de genéricos em Campinas; cópias de medicamentos são vendidas no Brasil desde 2000

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os medicamentos genéricos são tão eficazes quanto os remédios de marca usados no tratamento das doenças cardiovasculares, revela análise de múltiplos estudos clínicos (metanálise) publicada no "Jama", o jornal da Associação Médica Americana, uma das mais renomadas publicações médicas.
O trabalho avaliou 47 artigos de estudos clínicos comparativos de genéricos e remédios de marca publicados entre 1984 e agosto de 2008 -81% apresentavam resultados de ensaios clínicos controlados e 50% foram financiados pela indústria de genéricos.
Os artigos investigaram nove medicamentos cardiovasculares. Em todos os casos, os genéricos tiveram ação clínica equivalente aos remédios de marca.
Os genéricos -cópias de medicamentos de marca cujas patentes já expiraram- são vendidos no Brasil desde 2000. As doenças cardiovascules são o principal segmento desse mercado, com uma participação de 25% -o preço dos genéricos para essas doenças chega a ser 70% inferior aos de marca, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos).
Os governos de vários países, inclusive o Brasil, têm defendido a substituição dos medicamentos de marca pelas suas versões genéricas como forma de controlar os crescentes custos com a saúde. Porém, doentes e médicos ainda se mostram preocupados com uma eventual menor eficácia dos genéricos, segundo o estudo.
"As empresas farmacêuticas deram a entender em comunicados e na imprensa que os genéricos poderiam ser menos eficazes e menos seguros", escrevem os autores do estudo, da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard.

Influência do marketing
O secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, afirma que "há evidências de que as práticas de marketing das empresas chegam a limites éticos condenáveis no sentido de influenciar os médicos para receitar seus produtos [em detrimento aos genéricos]".
Segundo o secretário, o artigo publicado no "Jama" tem um peso muito grande porque ainda persiste o mito de que genéricos seriam menos eficazes do que os remédios de marca. "Alguns médicos pensam assim. E o fazem ou por desconhecimento ou por estarem influenciados pelo marketing da indústria farmacêutica."
Odmir Finotti, presidente da Pró Genéricos, diz que essa resistência aos genéricos no Brasil ainda existe, mas tem diminuído. Prova disso, explica, é que o segmento dobrou a participação no mercado em quatro anos -de 9% para 18%.
"Nossa legislação [sobre os critério de fabricação e fiscalização] está alinhada com todos os países desenvolvidos e, por isso, os resultados desse estudo podem ser aplicados aqui. Estamos falando de uma classe de medicamentos destinados a tratamentos prolongados e que podem ser fatais se não funcionarem. Então, se havia alguma dúvida sobre a qualidade e eficácia, esse estudo mostra que ela não tem razão de existir."
Para Gabriel Tannus, presidente da Interfarma (associação que reúne alguns dos laboratórios que mais investem em pesquisa), nem toda empresa que fabrica genérico tem a mesma qualidade. "Não existe uma campanha [da indústria farmacêutica de marca] para desacreditar os genéricos. Tem empresa séria, mas também tem empresa que não tem o mesmo padrão de qualidade."
Sobre a pesquisa, Tannus lembra que os estudos clínicos sobre a bioequivalência dos genéricos nem sempre incluem doentes, mas sim pessoas sadias, o que pode ter impacto nos efeitos secundários e, conseqüentemente, nos resultados dos ensaios clínicos.


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