São Paulo, quarta-feira, 07 de setembro de 2011

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pai de todos

Americanos doadores de esperma chegam a gerar mais de 150 filhos biológicos, levando a temor de incestos involuntários e doenças genéticas

Patrick Andrade/"The New York Times"
Wendy Kramer, fundadora de um site que ajuda filhos biológicos de doadores de esperma a localizar seus meios-irmãos

JACQUELINE MROZ
DO "NEW YORK TIMES"

A americana Cynthia Daily e seu marido usaram um doador de esperma para ter um filho há sete anos. Decidiram que seria interessante se o menino conhecesse seus meios-irmãos algum dia.
Para isso, Daily criou um registro na internet para as crianças filhas do mesmo doador e um grupo on-line para rastreá-las. Ao longo dos anos, o grupo cresceu sem parar -e hoje está na casa de 150 meninos e meninas. "É maluco vê-los juntos -são todos parecidos", afirma ela.
Com mais mulheres decidindo ter filhos sozinhas e mais bebês nascendo por meio de inseminação artificial, grandes grupos de irmãos biológicos estão aparecendo. Embora o grupo de Daily seja um dos maiores, conjuntos com 50 ou mais crianças podem ser encontrados em sites especializados.
O fenômeno preocupa pais, doadores e médicos, que temem as potenciais consequências negativas de existirem tantas crianças filhas dos mesmos pais.
Um temor envolve a disseminação mais ampla de genes ligados a doenças raras entre a população. Outro é o risco aumentado de incesto acidental entre meios-irmãos e meias-irmãs, que às vezes moram perto uns dos outros.

DE OLHO NO NÚMERO
O rastreio dos irmãos biológicos é possível porque os doadores de esperma, embora permaneçam anônimos, são identificados por um código numérico, que pode ser obtido nas clínicas de fertilização in vitro americanas.
Os especialistas afirmam que as clínicas obtêm grandes lucros ao permitir que muitas crianças sejam concebidas com esperma de doadores "populares", e que as famílias deveriam receber mais informações sobre a saúde dos pais biológicos.
O problema é a falta de regras claras para restringir o "sucesso reprodutivo" dos doadores. Nos Estados Unidos, há apenas uma recomendação da Sociedade Americana de Biologia Reprodutiva, segundo a qual deve-se limitar o número de nascimentos por doador a 25 crianças para cada 800 mil habitantes.
No Brasil, o Conselho Federal de Medicina tem recomendações mais restritivas (leia análise à direita).
"Temos mais regras para vender um carro usado do que para vender esperma", diz Debora Spar, economista do Barnard College que é especialista na indústria da medicina reprodutiva.
Outro problema envolve o fato de que só algo entre 20% e 40% das mães informam as clínicas de fertilização sobre o nascimento de seus filhos, diz Wendy Kramer, fundadora do site Donor Sibling Registry ("registro de irmãos filhos de doadores").
O filho de Kramer, Ryan, é fruto de uma doação de esperma, e a americana criou o site para que as pessoas possam localizar os meios-irmãos biológicos com a ajuda dos códigos dos doadores.
Para Kramer, alguns bancos de esperma tratam os pacientes de forma antiética.

É JUSTO?
"Precisamos nos perguntar: que política contempla os interesses da criança que vai nascer? É justo trazer ao mundo alguém que não terá acesso a dados sobre sua genética, história médica e ancestralidade?", diz Kramer.
Alguns dos próprios doadores criticam as práticas das clínicas de reprodução.
"Quando perguntei quantas crianças poderiam nascer [a partir do esperma], disseram que seria muito raro um doador gerar mais do que dez filhos", afirma um homem que preferiu ficar anônimo. "No fundo, eles basicamente fazem o que querem."


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