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Aos 55 anos, Roseana enfrenta 21ª cirurgia
Senadora pelo Maranhão, Roseana Sarney fala sobre o aneurisma cerebral, que foi descoberto no mês passado
Anderson Schneider/Folha Imagem
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A senadora Roseana Sarney em sua casa, onde vive com o marido, a filha e os dois netos
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 55, Roseana Sarney já
passou por 20 cirurgias. O convívio com o bisturi começou
aos 19 anos. Desde então, operou intestino, pulmão, mama,
joelho, punho, útero e ovários.
Passou por tudo aparentando
segurança. Até o mês passado,
quando descobriu um aneurisma cerebral -uma artéria dilatada que pode se romper.
"Foi a primeira vez que eu fiquei... Não tão forte. Dei uma
baqueada. Chorei."
Ex-governadora do Maranhão, atual líder do governo no
Congresso, a senadora Roseana
(PMDB) recebeu a Folha em
sua casa, em Brasília. Estava
calma, mas com semblante
cansado. Para as fotos, usou
salto alto e colar dourado. Em
geral, só usa tênis, devido a
problemas no joelho. Colares
também são raros; uma descalcificação causada por uma cirurgia intestinal gerou microfraturas no pescoço, que lhe
davam fortes dores de cabeça.
Há cerca de três anos, passou
por uma tomografia de crânio.
O resultado foi normal. Neste
ano, o exame voltou a integrar
seu check-up, e diagnosticou-se o aneurisma de 6 mm.
"Eu já tinha tido tanta coisa,
a última coisa que esperava era
um problema na cabeça. Isso
me pegou desprevenida. A não
ser quando quebrei a perna e o
punho, o resto [das operações]
era de nódulos", conta.
Os tumores fazem parte do
histórico familiar. O avô paterno morreu por causa de câncer
no cérebro. Há dois anos, foi a
vez de um tio, com câncer no
rim. Um primo teve um tumor
gastrointestinal. "De aneurisma, só minha avó materna, mas
ela já tinha mais de 90 anos e
tinha diabetes", afirma, antes
de fazer uma ressalva: "Mas, se
eu pensar um pouco, estou na
linha de risco: tenho 55 anos,
sou hipertensa e era fumante.
Estou dentro das estatísticas."
As estatísticas, é preciso dizer, fazem parte do arsenal de
dados que ela buscou em sites.
"Meus médicos vão me matar,
porque eu já vi tudo na internet", brinca. Os especialistas
confirmam que os aneurismas
surgem mais após essa idade,
que hipertensos são mais vulneráveis e que o cigarro é um
fator de risco importante.
Fumante por 30 anos, Roseana largou o cigarro há 21
dias, como parte do preparo
pré-cirurgia. Até então, parar
não estava nos planos. "Quando fiz os exames do pulmão e
do coração, e deram tudo bem,
disse: "Posso fumar para o resto
da minha vida"... E agora tenho
de parar por causa da cabeça."
Para controlar a fissura, apela para gelo e doces. Também
tem uma cartela de cigarros na
bolsa, para sentir "segurança".
Mais difícil é seguir outra recomendação -evitar o estresse. Principalmente, diz, porque
a maior parte do trabalho no
Congresso se concentra no fim
do ano. "Agora eu teria de votar
o Orçamento. Às vezes, a oposição não quer votar, você tem de
negociar. É muita coisa."
Sobre o aneurisma, avisou
sua equipe: "Agora vocês não
podem me estressar". Também
pediu que os funcionários fiquem atentos a qualquer comportamento anormal, que possa indicar um derrame.
Roseana ainda planeja tirar
uma licença para se preparar
para a cirurgia, prevista para
depois do Carnaval. A data tem
motivo prático: sua experiência
como paciente ensinou que
não se sai de hospital no fim de
semana, quando os médicos
não estão tão disponíveis. O
mesmo vale para o fim de ano,
quando a maioria viaja. Ou em
janeiro, com muitos deles em
férias. Depois, vem o Carnaval.
A cirurgia não é um consenso
entre os médicos. Roseana pretende ouvir médicos do Maranhão, mas parece resolvida. "Já
decidi: não vou ficar com isso.
Mesmo que o risco de ruptura
seja pequeno, é como se você
tivesse uma bomba na cabeça.
Só que quero operar de acordo
com os médicos e quando estiver no meu melhor momento."
O infectologista de São Paulo
David Uip, que atende quase
toda a família Sarney, diz que a
cirurgia não é obrigatória. "Estou ouvindo opiniões e avaliando riscos e benefícios. Ela não
tem uma urgência. A indicação
da cirurgia em aneurismas de 6
mm a 7 mm não é indiscutível."
A escolha também passa pelo
perfil da paciente. "Eu a conheço há muito tempo, ela é corajosa, quer resolver logo tudo.
Isso ajuda a equipe a decidir."
Histórico
Roseana passou pela primeira operação aos 19 anos, quando estudava na Suíça. Na época,
tirou o apêndice e um cisto no
ovário. Nos anos seguintes, fez
cirurgias para tentar engravidar e tirar nódulos do intestino.
O pior quadro ocorreu em
1998, quando tentava se reeleger para o governo do Maranhão. Foram quatro operações:
removeu um nódulo do pulmão, um tumor na mama e tirou o útero. A quarta operação
foi motivada por aderências no
intestino -uma cirurgia "difícil, de quase oito horas", lembra
Raul Cutait, que a operou.
Na época, para manter a estabilidade emocional, começou a
meditar, prática que pretende
retomar. Devota de Nossa Sra.
da Vitória e de são José de Ribamar, também busca apoio
nas orações. Terapia, nunca fez.
"Não senti necessidade. Lido
bem com as minhas deficiências, não só na área da saúde.
Há dois anos, perdi uma eleição
[para o governo do Maranhão]
e lidei bem. Esse histórico [de
problemas de saúde] me leva a
ter mais autoconhecimento, a
ultrapassar as dificuldades."
O plano, agora, diz, é se reestruturar para a cirurgia, o que
inclui meditar, orar, ficar com a
família e jogar baralho.
Também adotou uma nova
atividade: decorar a casa. Como
costuma passar o fim de ano no
Maranhão, Roseana não enfeitava a casa de Brasília para as
festividades. Nesse ano, assim
que descobriu o aneurisma,
comprou uma árvore de Natal.
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