São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008

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Aos 55 anos, Roseana enfrenta 21ª cirurgia

Senadora pelo Maranhão, Roseana Sarney fala sobre o aneurisma cerebral, que foi descoberto no mês passado

Anderson Schneider/Folha Imagem
A senadora Roseana Sarney em sua casa, onde vive com o marido, a filha e os dois netos

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 55, Roseana Sarney já passou por 20 cirurgias. O convívio com o bisturi começou aos 19 anos. Desde então, operou intestino, pulmão, mama, joelho, punho, útero e ovários. Passou por tudo aparentando segurança. Até o mês passado, quando descobriu um aneurisma cerebral -uma artéria dilatada que pode se romper.
"Foi a primeira vez que eu fiquei... Não tão forte. Dei uma baqueada. Chorei."
Ex-governadora do Maranhão, atual líder do governo no Congresso, a senadora Roseana (PMDB) recebeu a Folha em sua casa, em Brasília. Estava calma, mas com semblante cansado. Para as fotos, usou salto alto e colar dourado. Em geral, só usa tênis, devido a problemas no joelho. Colares também são raros; uma descalcificação causada por uma cirurgia intestinal gerou microfraturas no pescoço, que lhe davam fortes dores de cabeça.
Há cerca de três anos, passou por uma tomografia de crânio. O resultado foi normal. Neste ano, o exame voltou a integrar seu check-up, e diagnosticou-se o aneurisma de 6 mm.
"Eu já tinha tido tanta coisa, a última coisa que esperava era um problema na cabeça. Isso me pegou desprevenida. A não ser quando quebrei a perna e o punho, o resto [das operações] era de nódulos", conta.
Os tumores fazem parte do histórico familiar. O avô paterno morreu por causa de câncer no cérebro. Há dois anos, foi a vez de um tio, com câncer no rim. Um primo teve um tumor gastrointestinal. "De aneurisma, só minha avó materna, mas ela já tinha mais de 90 anos e tinha diabetes", afirma, antes de fazer uma ressalva: "Mas, se eu pensar um pouco, estou na linha de risco: tenho 55 anos, sou hipertensa e era fumante. Estou dentro das estatísticas."
As estatísticas, é preciso dizer, fazem parte do arsenal de dados que ela buscou em sites. "Meus médicos vão me matar, porque eu já vi tudo na internet", brinca. Os especialistas confirmam que os aneurismas surgem mais após essa idade, que hipertensos são mais vulneráveis e que o cigarro é um fator de risco importante.
Fumante por 30 anos, Roseana largou o cigarro há 21 dias, como parte do preparo pré-cirurgia. Até então, parar não estava nos planos. "Quando fiz os exames do pulmão e do coração, e deram tudo bem, disse: "Posso fumar para o resto da minha vida"... E agora tenho de parar por causa da cabeça."
Para controlar a fissura, apela para gelo e doces. Também tem uma cartela de cigarros na bolsa, para sentir "segurança".
Mais difícil é seguir outra recomendação -evitar o estresse. Principalmente, diz, porque a maior parte do trabalho no Congresso se concentra no fim do ano. "Agora eu teria de votar o Orçamento. Às vezes, a oposição não quer votar, você tem de negociar. É muita coisa."
Sobre o aneurisma, avisou sua equipe: "Agora vocês não podem me estressar". Também pediu que os funcionários fiquem atentos a qualquer comportamento anormal, que possa indicar um derrame.
Roseana ainda planeja tirar uma licença para se preparar para a cirurgia, prevista para depois do Carnaval. A data tem motivo prático: sua experiência como paciente ensinou que não se sai de hospital no fim de semana, quando os médicos não estão tão disponíveis. O mesmo vale para o fim de ano, quando a maioria viaja. Ou em janeiro, com muitos deles em férias. Depois, vem o Carnaval.
A cirurgia não é um consenso entre os médicos. Roseana pretende ouvir médicos do Maranhão, mas parece resolvida. "Já decidi: não vou ficar com isso. Mesmo que o risco de ruptura seja pequeno, é como se você tivesse uma bomba na cabeça. Só que quero operar de acordo com os médicos e quando estiver no meu melhor momento."
O infectologista de São Paulo David Uip, que atende quase toda a família Sarney, diz que a cirurgia não é obrigatória. "Estou ouvindo opiniões e avaliando riscos e benefícios. Ela não tem uma urgência. A indicação da cirurgia em aneurismas de 6 mm a 7 mm não é indiscutível."
A escolha também passa pelo perfil da paciente. "Eu a conheço há muito tempo, ela é corajosa, quer resolver logo tudo. Isso ajuda a equipe a decidir."

Histórico
Roseana passou pela primeira operação aos 19 anos, quando estudava na Suíça. Na época, tirou o apêndice e um cisto no ovário. Nos anos seguintes, fez cirurgias para tentar engravidar e tirar nódulos do intestino.
O pior quadro ocorreu em 1998, quando tentava se reeleger para o governo do Maranhão. Foram quatro operações: removeu um nódulo do pulmão, um tumor na mama e tirou o útero. A quarta operação foi motivada por aderências no intestino -uma cirurgia "difícil, de quase oito horas", lembra Raul Cutait, que a operou.
Na época, para manter a estabilidade emocional, começou a meditar, prática que pretende retomar. Devota de Nossa Sra. da Vitória e de são José de Ribamar, também busca apoio nas orações. Terapia, nunca fez.
"Não senti necessidade. Lido bem com as minhas deficiências, não só na área da saúde. Há dois anos, perdi uma eleição [para o governo do Maranhão] e lidei bem. Esse histórico [de problemas de saúde] me leva a ter mais autoconhecimento, a ultrapassar as dificuldades."
O plano, agora, diz, é se reestruturar para a cirurgia, o que inclui meditar, orar, ficar com a família e jogar baralho.
Também adotou uma nova atividade: decorar a casa. Como costuma passar o fim de ano no Maranhão, Roseana não enfeitava a casa de Brasília para as festividades. Nesse ano, assim que descobriu o aneurisma, comprou uma árvore de Natal.


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