São Paulo, sexta-feira, 08 de abril de 2011 |
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Tão perto, tão longe Dor de cabeça e tropeções são queixas comuns entre os que não se adaptam às lentes multifocais
GUILHERME GENESTRETI DE SÃO PAULO A secretária Nadime Antum, 52, usou óculos multifocais por oito anos, mas diz que nunca se acostumou. "Era muito ruim. No final do dia, meus olhos ficavam vermelhos e eu tinha que usar soro fisiológico para aliviar a dor", conta. Dirigir, então, era pior. "Não conseguia medir a distância para o carro da frente ou o pedestre." Em 2010, Nadime, que mora em Curitiba, fez cirurgia para implantar lentes intraoculares. Aposentou os óculos. "Um paraíso, outra vida." O gaúcho Enio Silveira, 43, é míope desde os 11, mas só teve problemas com óculos quando passou a usar multifocais. "Se você levanta a cabeça, fica borrado. É um tapa-olho de cavalo", afirma o analista de sistemas. Ele diz sentir dificuldade para andar na rua. Vai pedir ao médico que prescreva dois óculos. "Perdi aquela ideia de que é mais fácil ter um só." Nadime e Enio tentaram as lentes multifocais contra a presbiopia, que afeta todas as pessoas depois dos 40 anos. O músculo que movimenta o cristalino perde elasticidade, dificultando o foco sobre objetos próximos. As lentes concentram, numa só peça, focos para distâncias longa, média e curta. Levam vantagem sobre as bifocais porque a transição entre os focos é progressiva. Mas basta um pequeno movimento com a cabeça ou com o olho para enxergar pela distância errada. Tropeções, dores de cabeça e tonturas são comuns em quem não se adapta. O preço também é um inconveniente. "Uma lente multifocal boa custa dez vezes o preço de uma lente comum", calcula o oftalmologista Hamilton Moreira, diretor do Hospital de Olhos do Paraná. No Brasil, uma lente multifocal padrão custa em torno de R$ 600, mas pode chegar a até R$ 3.000, se for mais fina, mais leve e antirreflexo. Nos EUA, o preço gira em torno de US$ 350 (R$ 563). DOBRAR A CABEÇA Uma pesquisa australiana publicada no "British Medical Journal" mostrou que o número de quedas entre idosos que usavam lentes multifocais diminuiu quando eles passaram a usar as de tipo monofocal em ambientes externos e em escadas. Segundo Moreira, é necessário que o oftalmologista ensine ao paciente a técnica certa para descer uma escada, andar e dirigir. "Tem que mexer a cabeça para não olhar o degrau pela lente de perto", aconselha. Para Ricardo Uras, oftalmologista da Unifesp, a principal recomendação é paciência. "Não dá para imaginar que vai se acostumar com os óculos multifocais no dia seguinte, mas a maioria consegue em uma semana." Segundo ele, a adaptação será melhor se o médico avaliar fatores como o tipo de uso que o paciente faz da lente, a forma como trabalha e até a sua altura. "Só não fica com vista cansada quem morre antes. Então o ideal é se acostumar." Escolher mal a armação pode comprometer a adaptação, diz Claudia Francesconi, do Hospital Oftalmológico de Sorocaba. "Está na moda usar óculos pequenos, e eles exigem mais ainda que a pessoa movimente a cabeça, já que basta um pequeno movimento para sair do foco", diz. O médico Hamilton Moreira dá uma dica para quem quer saber se a armação e a lente estão corretas: sentar a uma distância média do aparelho de TV, com uma revista nas mãos. A visão dos dois focos precisa estar perfeita. "Se a pessoa tiver dificuldade, não adianta forçar. Tem que voltar ao médico para ver o que está errado." Para quem não se acostumar mesmo, lentes de contato e cirurgias são opções. Próximo Texto: Foco: Dia de combate ao câncer tem exposição e exames grátis Índice | Comunicar Erros |
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