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Mulheres são mal representadas em pesquisas de câncer
Revisão de artigos mostra que participação média foi de 38,8% em estudos sobre novos remédios contra a doença
Para especialistas, diferença encontrada na proporção entre homens e mulheres pode prejudicar conclusões sobre efeitos do tratamento
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Na era em que o estudo do
câncer se volta aos tratamentos
dirigidos -baseados, entre outras coisas, nas particularidades de grupos populacionais-,
as mulheres são sub-representadas nas pesquisas clínicas
mais importantes das novas terapias para tipos de câncer não
relacionados ao gênero.
Nas pesquisas sobre sete tipos de tumor (hematológico,
gastrointestinal, do aparelho
urinário, de pulmão, do sistema
nervoso, de cabeça e pescoço e
sarcomas), a participação de
mulheres foi, em média, de
38,8%. Para os pesquisadores,
essa proporção é menor do que
a incidência de vários tipos de
câncer em mulheres.
O trabalho, da Universidade
de Michigan (EUA), será publicado na edição de 15 de julho do
jornal "Cancer", da Sociedade
Americana de Câncer. Os autores revisaram 661 pesquisas clínicas publicadas nos veículos
científicos mais respeitados,
como "New England Journal of
Medicine", "Jama" e "Lancet",
entre outros, envolvendo mais
de um milhão de participantes.
"Sabemos que existem diferenças significativas entre homens e mulheres que podem
ter grande influência nas respostas à doença e ao tratamento e, portanto, nas conclusões",
disse Reshma Jagsi, líder do estudo, por e-mail, à Folha.
A preocupação em garantir a
representação de todos os segmentos da população em pesquisas não é nova. Segundo
Paulo Hoff, diretor clínico do
Instituto do Câncer do Estado
de São Paulo Octavio Frias de
Oliveira, uma série de trabalhos mostra a baixa representação de minorias em pesquisas
médicas. "Especificamente em
relação ao sexo [dos participantes], ainda não havia sido
demonstrado, de forma tão
contundente, o quanto a mulher pode ser afetada", diz.
Incidência
A questão não é ter um número igual de homens e mulheres. "Se pensamos em tumor de
estômago, a incidência é duas
vezes maior em homens, o que
justificaria a maior proporção
deles nos estudos", diz Hoff.
No trabalho da Universidade
de Michigan, o critério foi comparar a proporção de mulheres
na pesquisa com a incidência
do tipo de câncer na população
feminina em geral. "As importantes diferenças encontradas
para alguns tipos de câncer sugerem que é preciso melhorar a
distribuição [dos participantes
de cada sexo]", diz Reshma Jagsi. "Por exemplo, enquanto
44,8% dos pacientes diagnosticados com câncer de pulmão
nos EUA em 2000 eram mulheres, a participação feminina
foi de apenas 30,6% nos estudos revisados", diz.
O maior problema é que,
quando um segmento da população está mal representado
nas pesquisas, o entendimento
dos efeitos do tratamento pode
ser prejudicado. "Se há grupos
sub-representados, os resultados ficam viciados, não refletem o que acontece com a população geral", diz Auro del Giglio, coordenador de oncologia
do hospital Albert Einstein.
Segundo Rafael Schmerling,
do centro de oncologia do Hospital Sírio-Libanês, "do ponto
de vista formal, não temos muitos dados para dizer se os tratamentos agem de forma diferente em homens e mulheres. O
ideal seria desenhar o estudo
para podermos identificar qual
subgrupo se beneficia mais ou
menos da terapia".
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